Governo moçambicano e RENAMO mantêm encontros sem negociação
25 de junho de 2013A situação tensa em Moçambique tem vindo a agravar-se desde as emboscadas contra viaturas, ocorridas nos últimos dias e que foram atribuídas à oposição, para além das ameaças de ataques feitas na passada sexta-feira (21.06.) por um dirigente do partido de Afonso Dhlakama.
Esta segunda-feira (24.06.), o Governo moçambicano e a RENAMO reuniram-se, pela sétima vez, mas não chegaram a consenso quanto à crise político-militar que já causou a morte de dez pessoas. Esses encontros têm lugar desde dezembro último, mas as duas partes ainda não conseguiram chegar a acordo também no que toca à legislação eleitoral aprovada no parlamento pela FRELIMO, partido no poder, apoiada pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira bancada parlamentar.
Entretanto, à margem da cerimónia dos 38 anos de independência de Moçambique, o Presidente do país, Armando Guebuza, disse aos jornalistas, em Maputo, que está determinado a dialogar com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, para ultrapassar o clima de insegurança que se vive, uma situação que preocupa a maioria da população moçambicana.
Para Sultan Mussa, coordenador do programa em Moçambique da Fundação alemã Konrad Adenauer, próxima da União Democrata Cristã, CDU, é com muita alegria que os moçambicanos comemoram mais este aniversário de independência, embora lamente a grande insegurança que a população do país enfrenta.
DW África: Vê disponibilidade do Governo em negociar com a RENAMO?
Sultan Mussa: Há negociações entre o Governo e a RENAMO sobre a segurança em geral, só que, da parte do Governo, não temos sentido que o Governo quer negociar com a RENAMO. Aliás, as negociações vão acontecendo, mas não há [até agora] resultados palpáveis.
DW África: Há um cheiro a passado, no momento em que se comemoram 38 anos de independência. Como evitar a escalada do conflito entre a RENAMO e o Governo?
SM: [Na minha opinião,] tem de haver negociação das duas partes. Os encontros existem, mas negociação não existe. Eu acho que o Governo está a ser um pouco arrogante, porque deve ceder também nalguma parte. O presidente da República [Armando Guebuza] falou ontem [segunda-feira (24.06. )] na televisão e não vimos nada sobre essa questão, só se ouviu “temos de combater a pobreza e temos de ir votar nas eleições de novembro”. E isso não é o que o cidadão quer ouvir. O cidadão quer ouvir alguns resultados: segurança nacional, o que é que vai acontecer ou sobre as pessoas que vão à rua reivindicar os seus direitos, mas sobre isso não há nenhuma reação e o grande desafio para os próximos 10, 20 anos são os megaprojetos. A população está a dividir-se: temos uma pequena elite no poder, com acesso a quase tudo, e a população, o cidadão comum, que tem menos acesso. E a pobreza vai aumentando.
DW África: A sétima ronda negocial terminou na segunda-feira e inconclusiva. Há uma sensação de que ninguém quer solucionar o problema. Será isso verdade?
SM: É o que as pessoas estão a comentar, porque vêem as duas partes que estão a prosseguir, mas sem resultados palpáveis. Até porque o partido no poder [FRELIMO] tem acesso a praticamente tudo: imprensa, que favorece o partido no poder. O partido no poder devia ceder alguma parte.
DW África: Será possível um consenso em torno das exigências que a RENAMO apresenta, nomeadamente quanto à legislação eleitoral no parlamento?
SM: Vem-se falando muito sobre isso e acredito que, sem esse consenso, o país poderá sofrer muito. A RENAMO não irá participar nas eleições e poderá haver [outras] consequências.
DW África: Chegou o momento de uma mediação internacional ou ainda é cedo?
SM: Cedo nunca é. Quanto mais cedo melhor. Eu acho que a comunidade internacional também está interessada – Moçambique está a registar um crescimento muito grande, com muito investimento – e nós não queremos parar com isso. Não custa negociar com a RENAMO e chegar a um consenso. É para o bem de todos: tanto da comunidade internacional como dos investidores e da população em geral.