Portugal preocupado com insegurança em Moçambique
13 de novembro de 2018O empresário da área da maquinaria de construção civil José Caetano, de 51 anos, foi encontrado morto depois de ter sido raptado na sexta-feira (09.11) e de ter sido pago o resgate pedido pelos criminosos, de acordo com informações veiculadas pela imprensa.
A morte do cidadão português, que vivia há oito anos em Moçambique, levou o diretor-geral de política externa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal a reunir-se, esta segunda-feira (12.11), com o embaixador moçambicano na capital portuguesa, Joaquim Bule, a quem transmitiu a inquietação do Governo face aos vários casos de rapto e assassinato de cidadãos nacionais.
Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, disse que se trata de um caso "muitíssimo grave" e que estes episódios "não contribuem para a confiança dos investidores" em Moçambique. "Naturalmente temos também o dever de manifestar a nossa grande preocupação com factos que têm vindo a ocorrer em Moçambique, que não contribuem para a confiança dos investidores, porque os portugueses são essenciais para o desenvolvimento económico do país", declarou.
O secretário de Estado das Comunidades acredita que não há, neste caso, ligações ou articulações com outros casos que têm vindo a ocorrer no norte do país, na jurisdição da Beira. "Vamos aguardar pelas investigações, é o resultado de um rapto e da exigência de um pagamento para libertar esse mesmo cidadão. O pagamento foi realizado e mesmo assim sucumbiu às mãos dos criminosos", disse.
"Crescente insegurança"
No comunicado distribuído à imprensa esta segunda-feira (12.11), depois de uma reunião com o embaixador moçambicano acreditado em Lisboa, Joaquim Bule, o Ministério português dos Negócios Estrangeiros (MNE) expressa "forte preocupação" perante a "perceção de crescente insegurança" dos seus nacionais em Moçambique.
"Essa perceção tem-se vindo infelizmente a reforçar com vários episódios marcados pelo desaparecimento ou morte de portugueses e agravou-se depois de conhecidas as circunstâncias em que ocorreu a morte do cidadão português José Paulo Antunes Caetano", a 11 deste mês de novembro, lê-se na nota do Palácio das Necessidades.
Depois deste comunicado, as autoridades portuguesas responsáveis pela política externa não fazem mais comentários sobre o assassinato de José Caetano. O crime terá ocorrido na zona de Mussumbuluco, na Matola, subúrbios da capital, Maputo, perto das instalações da empresa de Antunes Caetano. Segundo a Lusa, "o corpo viria a ser encontrado pelas 14 horas de domingo numa pedreira abandonada na zona de Moamba, a cerca de 70 quilómetros de Maputo, nas imediações da estrada que liga a capital moçambicana à África do Sul". A polícia precisou que a vítima apresentava sinais de ter sido atingida com uma faca no pescoço e no braço.
O Presidente português já apresentou condolências à família do empresário. Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se preocupado com a gravidade da situação e afirmou, numa nota no site da Presidência da República, que aguarda a conclusão das investigações em curso.
Casos de portugueses assassinados
Inês Botas, uma portuguesa de 28 anos que trabalhava para a empresa Ferpinta na cidade da Beira, centro de Moçambique, foi igualmente assassinada em dezembro de 2017. Três homens foram acusados do crime, incluindo o preparador físico da vítima, mas o julgamento nunca se chegou a realizar, tendo um dos suspeitos fugido da prisão na última semana.
Salomé Sebastião, esposa de Américo Sebastião, outro empresário português desaparecido em Moçambique, lamenta profundamente o que aconteceu a José Caetano e à sua família. "É mais uma razão para que haja uma ação, talvez conjunta, da comunidade internacional, ajudando Moçambique a que haja uma justiça célere e que estes casos possam ser evitados no futuro.
Américo Sebastião desapareceu há mais de dois anos na província de Sofala e o Ministério Público moçambicano decidiu recentemente arquivar o processo por falta de elementos de prova durante a investigação. Contudo, a esposa do empresário pede mais empenho das autoridades moçambicanas. "Isso reitera a necessidade de uma intervenção ao mais alto nível para que o meu marido possa ser localizado e possa ser realmente resgatado são e salvo e devolvido ao país e à sua família", defende.
"Há mais de dois anos que Moçambique diz que está a investigar e agora opta por encerrar o processo, quando as autoridades portuguesas ofereceram cooperação nas investigações desde a primeira hora e Moçambique nunca aceitou e agora vem encerrar o processo, dizendo que não encontraram nada. Há aqui alguma coisa que não está bem", lamenta Salomé Sebastião, que já recorreu a várias instâncias internacionais a pedir ajuda, entre as quais as Nações Unidas, a União Europeia, o Vaticano e a Amnistia Internacional. Em declarações à DW África, assegura que vai continuar a lutar pelo resgate do marido.
No encontro desta segunda-feira entre o diretor-geral de Política Externa do MNE e o embaixador de Moçambique, "foi manifestado o total empenho do Governo português em explorar com as autoridades moçambicanas" os meios e os instrumentos bilaterais em vigor "que permitam uma troca adequada de informações» entre os dois países "tendo em vista assegurar as melhores condições de segurança para os seus nacionais".