Moçambique recebe Presidente de Portugal
3 de maio de 2016A visita de quatro dias de Marcelo Rebelo de Sousa tem um significado particular na agenda política e económica portuguesa. Depois de uma viagem a Roma (Itália), o chefe de Estado português chegou esta terça-feira (03.05) a Maputo com o objetivo de reforçar o compromisso que o novo inquilino de Belém assumiu pela valorização da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Há uma relação afetiva muito antiga entre mim e Moçambique, mas há também uma relação entre povos e Estados que é muito forte", declarou Marcelo Rebelo de Sousa em entrevista à DW África. "Portanto, no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, penso que se tiver bom acolhimento, que espero venha a ter esta visita, isso será muito bom para as relações bilaterais entre Moçambique e Portugal e será muito bom para a CPLP como um todo".
O chefe de Estado português prioriza esta viagem em cumprimento da promessa feita em Lisboa ao homólogo Filipe Nyusi, "ir a Moçambique", aquando do seu empossamento a 9 de março.
Crises em Moçambique
Esta é a primeira visita de Estado do Presidente da República portuguesa a um dos países lusófonos de África. A visita tem lugar numa altura conturbada para Moçambique, a braços com um cenário de instabilidade política sem fim à vista, agravado com a descoberta de vários cadáveres no centro do país e com o escândalo da dívida escondida pelo Governo moçambicano.
Para o chefe de Estado português, não há nenhum momento incómodo para visitar Moçambique. Tanto mais que, nos encontros previstos com as principais forças políticas moçambicanas, o Presidente irá tentar medir o pulso para uma eventual intermediação do conflito entre a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
O analista Eugénio Costa Almeida não acredita que o Presidente português possa fazer muito por Moçambique face aos problemas económicos que o país enfrenta. "Até porque os doadores internacionais, incluindo a União Europeia, vão, depois da visita de Marcelo, denunciar os acordos de doação e suspender todos os respetivos subsídios de apoio ao país e ao seu orçamento", diz.
Costa Almeida considera, porém, que Marcelo Rebelo de Sousa, amigo de Moçambique, poderá ajudar a encontrar uma solução mais consistente para uma aproximação de posições entre o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que contribua para a estabilidade efetiva.
Objetivo da visita: cooperação económica
Mas é a cooperação bilateral o foco da agenda do estadista português, de olhos postos no futuro. Os dois países querem reatar as cimeiras bilaterais ainda este ano, visando sobretudo o reforço da cooperação económica. O desejo foi expresso em Lisboa por Nyusi em março.
Na altura, o Presidente moçambicano, que também se encontrou com o primeiro-ministro, António Costa, manifestou interesse em ver aumentar o investimento português.
O ministro português da Economia, Manuel Caldeira Cabral, abraça tal interesse quando abordado a propósito pela DW África.
Moçambique "é um dos países no mundo em que Portugal surge como um dos maiores investidores estrangeiros. Há ainda muitas oportunidades por aproveitar. A visita do Presidente da República é muito interessante e demonstra o empenhamento de Portugal na cooperação e no desenvolvimento de todos os países de expressão portuguesa", afirmou o governante. "Acho que o desenvolvimento se faz com apoios, com colaboração política, mas também com investimentos."
Os investimentos devem privilegiar setores como a agricultura, pesca e turismo: "Várias empresas que têm investido em Moçambique têm tido bom retorno dos seus investimentos ao mesmo tempo que estão a criar empregos e a criar perspetivas de crescimento."
A viagem de Marcelo Rebelo de Sousa, que fica em Maputo até sábado (07.05), confirma Moçambique como uma prioridade no âmbito da política externa portuguesa.
Em abril, a secretária de Estado da Cooperação, Teresa Ribeiro, esteve na capital moçambicana e anunciou que o primeiro-ministo português deverá deslocar-se à antiga colónia africana no último trimestre deste ano para participar na terceira cimeira bilateral.
As visitas de Estado a Moçambique, mas também à Alemanha - igualmente prevista para este mês -, foram aprovadas no final de março pelo Parlamento português. Para já, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa não vai deslocar-se a Angola, contrariamente ao recente anúncio feito em Lisboa pelo chefe da diplomacia angolana, Georges Chikoti, após um encontro com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva.