Greve na saúde: Doentes internados forçados a ir para casa
22 de agosto de 2023Pacientes e familiares ouvidos pela DW África na província de Inhambane denunciam que a prorrogação da greve dos médicos está a levar a altas compulsivas em várias enfermarias e pediatrias.
Alexandre Macamo, residente na cidade da Maxixe, diz que foi obrigado a levar para casa a sua filha, internada desde o mês passado no hospital provincial de Inhambane.
"Estão a dar alta a pessoas internadas, não porque estejam melhores, mas porque não há ninguém para as atender", revela em declarações à DW África.
Carlos Chimele diz que ficou espantado com a notícia da alta da sua esposa, internada desde meados de agosto. "Hoje, de surpresa, vimos este documento que diz estar a dar alta, devido à greve", conta.
Agora, a esposa está em casa, mas não está melhor. Carlos Chimele confessa que não sabe o que fazer: "Estamos de olhos vermelhos porque temos uma doente que vai ficar em casa, sem um atendimento melhor."
Greve dos médicos começou a 10 de julho
Os médicos moçambicanos exigem aumentos salariais e o pagamento de horas extraordinárias.
O Governo ameaçou punir os profissionais que faltassem ao trabalho, e a Associação Médica de Moçambique (AMM) denunciou uma tentativa de intimidação.
Contactadas pela DW África, as autoridades de saúde em Inhambane recusaram-se a falar sobre a situação na província. Explicaram apenas que o assunto está nas mãos do Ministério da Saúde.
Na segunda-feira, o ministério garantiu em comunicado que, "não obstante os desafios que estas paralisações laborais impõem no setor da Saúde, o Governo vai garantir a continuidade de serviços de saúde à população". Esta terça-feira, o Executivo moçambicano anunciou a criação de um novo grupo de trabalho, liderado pelo primeiro-ministro, Adriano Maleiane, para negociar com os profissionais de saúde em greve. O Governo refutou ainda as acusações de ameaças contra três líderes da AMM, nomeadamente o presidente, o vice-presidente e o secretário-geral da agremiação.
Pedido de ajuda
O paciente Nunes Mapango diz que está bastante preocupado, depois ter sido operado no hospital provincial de Inhambane.
Na manhã desta terça-feira, informaram-no que deveria regressar a casa, porque não há atendimento naquela unidade sanitária. "Venho de Morrumbene e fui operado aqui, mas o diretor diz que não há pessoas a trabalhar", afirma.
Cândida Pedro queria marcar consulta de oftalmologia, mas não conseguiu, porque todos os serviços estavam encerrados. Pede, por isso, ao Governo para dialogar com os médicos e os restantes profissionais de saúde, que, entretanto, também entraram em greve.
"Os pacientes é que sofrem. O Governo está lá numa boa e os pacientes estão a sofrer", sublinha.