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Estado chamado a pôr fim a violência no âmbito da feitiçaria

Iancuba Dansó (Bissau)
28 de setembro de 2020

Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) regista 49 mortes, nos últimos dois anos, de indivíduos acusados de prática de feitiçaria. Sociedade civil apela à intervenção do Estado para sensibilizar as comunidades.

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Foto ilustrativa: Uma "komian", sacerdotisa tradicional da Costa do Marfim.Foto: Sia Kambou/AFP

Segundo a denúncia da Liga Guineense dos Direitos Humanos, o último caso aconteceu a 11 de setembro deste ano: uma cidadã de mais de 50 anos foi "brutalmente assassinada" por um grupo de populares, no sul da Guiné-Bissau, acusada de prática de feitiçaria. O corpo da vítima, de acordo a denúncia da Liga, foi "profanado" e alguns órgãos "amputados".

Este está longe de ser o primeiro caso do género. O fenómeno é antigo e, apesar das denúncias das organizações de diretos humanos, a situação continua na mesma. "Nessas aldeias [onde acontecem os atos] não há segurança para as pessoas, francamente não há", lamenta Justo Braima Camará, presidente do Movimento da Sociedade Civil da Região de Quínara, no sul do país, que considera a situação preocupante.

"Estamos a pedir às autoridades locais para que multipliquem os elementos de segurança, para poder garantir segurança às populações que vivem nessas aldeias", apela.

Responsabilização e sensibilização

Mulheres banidas da comunidade por suspeitas de feitiçaria

Em comunicado, a Liga Guineense dos Direitos Humanos lamenta que os atores materiais e morais da "maioria esmagadora" dos casos de assassinatos de cidadãos acusados de prática de feitiçaria, continuam impunes, "devido ao não funcionamento das instituições judiciárias".

À DW África, o sociólogo Infali Donque aponta uma solução para o problema: "É preciso que as instituições sociais reforcem as suas presenças nessas zonas. A Igreja deve, de facto, envolver-se mais, ajudando essas comunidades. Também o próprio Estado deve envolver-se, através da escola".

O sociólogo explica que, "por vezes, são jovens que são chamados para executar esse tipo de atos e esses jovens devem ser consciencializados de outra forma".

Para a diretora da ONG "Voz di Paz", Udé Fati, é preciso quebrar o mito nas comunidades, com o envolvimento dos líderes locais: "Acho que há muito trabalho para fazer e deve ser do Estado, com o envolvimento dos líderes comunitários e das localidades, para que as pessoas tenham medo de cometer essas práticas e também para que se quebre essa crença e mito de que, através da feitiçaria e de poderes que a gente não conhece, os poderes sobrenaturais, as pessoas conseguem fazer mal umas às outras".

A DW África tentou, sem sucesso, contactar o Ministério do Interior da Guiné-Bissau, entidade responsável pela garantia de segurança às populações.

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