PAIGC repudia nomeação de Sissoco para primeiro-ministro
19 de novembro de 2016Surgiram críticas pouco depois do Presidente guineense José Mário Vaz ter nomeado e empossado, ao final do dia de sexta-feira (18.11), Umaro Sissoco Embaló como primeiro-ministro para formar um Governode consenso e unidade nacional.
A reação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) abala as expectativas dos guineenses quanto ao fim da crise política no país.
O PAIGC "demarca-se da decisão" do Presidente de nomear Umaro Sissoco Embaló como primeiro-ministro, "responsabilizando-o por todas as consequências daí decorrentes", lê-se no comunicado da Comissão Permanente do Bureau Político do partido.
O PAIGC declara que se "opõe frontalmente aos sinais evidentes de implantação da ditadura na Guiné-Bissau", segundo o documento assinado pelo líder, Domingos Simões Pereira.
Ao empossar Umaro Sissoco Embaló, o chefe de Estado vai "prosseguir com a crise, por ele criada e ininterruptamente sustentada", sublinha o partido vencedor das últimas eleições gerais, em 2014.
A principal força política da Guiné-Bissau apela ainda à Comunidade Económica dos estados da África Ocidental (CEDEAO) e a toda a comunidade internacional para "acompanhar o povo guineense nesta luta pela defesa das conquistas democráticas e da liberdade, opondo-se frontalmente aos sinais evidentes de implantação da ditadura na Guiné-Bissau".
Liderado por Simões Pereira, o PAIGC promete ainda "continuar a luta pela afirmação do Estado de direito democrático", lê-se ainda no documento.
Sissoco Embaló e Acordo de Conacri geram discórdia
A nomeação do general na reserva das Forças Armadas guineenses, de 44 anos, segue-se à demissão do Governo de Baciro Djá, na terça-feira (15.11). Sissoco terá sido um dos três nomes propostos pelo chefe de Estado, José Mário Vaz, nas negociações do Acordo de Conacri, assinado em outubro pelos dirigentes guineenses para ultrapassar a crise política.
No entanto, o nome de Umaro Sissoco Embaló não reuniu consenso, segundo o PAIGC que, já há algum tempo o vinha contestando abertamente. O apoio do partido maioritário recai antes sobre Augusto Olivais, outro nome que Vaz teria em cima da mesa.
Por isso, o PAIGC afirma que esperava o cumprimento "do consenso estabelecido em Conacri, o que não aconteceu", refere em comunicado.
Mediado pela CEDEAO, o documento final do Acordo de Conacri não esclareceu o nome escolhido, o que tem alimentado divergências sobre o que realmente ficou acordado nas negociações.
Nesse sentido, o PAIGC já tinha pedido, esta semana, à CEDEAO para que seja revelado o relatório final, para que se possam dissipar dúvidas.
O partido de Domingos Simões Pereira entende que, ao empossar Sissoco, José Mário Vaz está a pôr em causa "de forma irresponsável todo o esforço e sacrifício consentidos pelos diferentes atores políticos e sociais do país, assim como da comunidade internacional, particularmente da CEDEAO", diz o documento.
Sem declarações
Umaro Sissoco foi empossado pelo chefe de Estado, no Palácio da Presidência, numa cerimónia que durou cerca de duas horas e sem discursos. As medidas de segurança foram reforçadas nas imediações do Palácio.
À saída, confrontado pelos jornalistas, Umaro Sissoco remeteu declarações para a posse do Governo, ainda sem data marcada.
Polícia proíbe protesto
A polícia proibiu, na sexta-feira (18.11), uma manifestação em Bissau de um grupo de cidadãos que pretendia demonstrar a sua indignação pela persistência da crise política no país.
Elementos da Polícia de Ordem Pública e da Guarda Nacional impediram que os manifestantes se juntassem no Bairro da Ajuda e numa Praça da capital guineense.
"A polícia apareceu e mandou as pessoas dispersar. Como não queremos entrar em confronto, decidimos não realizar a manifestação", disse Lesmes Monteiro, dirigente do Movimento de Cidadãos Conscientes e Inconformados e cantor de uma banda juvenil guineense.
O porta-voz da iniciativa garantiu que "para já" o movimento decidiu parar com as manifestações de rua, uma vez que o Presidente nomeou Umaro Sissoco Embaló como primeiro-ministro do país.
"Como não temos nada contra Umaro Sissoco vamos dar o benefício da dúvida ao Presidente e parar com as manifestações", rematou Lesmes Monteiro.
No entanto, o movimento prometeu entrar com uma ação na justiça para exigir a anulação da decisão do ministro da Administração Territorial do Governo demitido, na semana passada, que proibiu a realização das manifestações de rua.