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Gâmbia: Jammeh contra o resto do mundo

Hilke Fischer | ac | gcs
13 de dezembro de 2016

Se o Presidente gambiano Yahya Jammeh continuar a não respeitar os resultados das eleições de 1 de dezembro, o que poderá fazer a comunidade internacional?

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Foto: picture alliance/AP Photo/J. Delay

Poucos terão pensado que o Presidente gambiano reconheceria a derrota eleitoral, após 22 anos no poder. Mas Yahya Jammeh fê-lo. Dias depois, porém, recuou, justificando que a Comissão Eleitoral cometeu "erros inaceitáveis" na contagem dos votos. E pediu novas eleições.

"Da mesma forma que aceitei os resultados acreditando que a Comissão Eleitoral era independente, honesta e credível, rejeito [agora] os resultados na sua totalidade", afirmou Jammeh, de 51 anos, na sexta-feira (09.12).

Gambia Wahlsieger Adam Barrow
Candidato da oposição, Adama Barrow, venceu presidenciais de 1 de dezembroFoto: Getty Images/AFP/M. Longari

O vencedor, Adama Barrow, apelou, no sábado, ao Presidente para "aceitar a decisão do povo". O candidato da oposição rejeita uma repetição do escrutínio. Na capital, Banjul, nota-se uma forte presença das forças de segurança. O ambiente é tenso. "A comunidade internacional tem de agir rapidamente", escreveu Ebra Justice, um gambiano a viver no exílio em Bruxelas, numa das páginas do Facebook da DW África. "Caso contrário, [Jammeh] vai querer matar o Presidente Barrow, a sua coligação e os prisioneiros políticos, que acabam de ser libertados."

Pressão internacional

Uma delegação da União Africana (UA) chegou esta terça-feira (13.12.) à Gâmbia, para tentar convencer Jammeh a abandonar o poder. Tanto a UA, como a comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pediram ao Presidente para reconhecer a vitória do seu rival e "garantir a segurança do Presidente eleito Adama Barrow e de todos os cidadãos gambianos." Também o Conselho de Segurança das Nações Unidas, os Estados Unidos da América e a Alemanha criticaram a recusa de Jammeh em aceitar os resultados.

"O Presidente Jammeh está sob forte pressão", diz Alex Vines, do Instituto britânico de Relações Internacionais, Chatham House.

Gambia Banjul Anhänger Adama Barrow
Apoiantes de Adama Barrow celebram a vitóriaFoto: Reuters/T. Gouegnon

Medo de ser processado

Numa entrevista ao jornal britânico Guardian, a opositora Fatoumata Jallow-Tambajang anunciou que o novo Executivo iria levar Jammeh à Justiça. "Isso amedrontou-o e levou-o a contestar os resultados eleitorais", acredita Vines. Agora, será essencial encontrar soluções que Jammeh esteja disposto a aceitar: "A CEDEAO terá de pensar em incentivos para que Jammeh reconheça a derrota e, possivelmente, deixe o país." Isso significaria encontrar um país que o acolhesse e prescindisse de o levar a tribunal.

Jammeh chegou ao poder em 1994 com um golpe de Estado e foi sucessivamente reeleito desde então. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch acusa o regime do Presidente gambiano de detenções arbitrárias, tortura, raptos e perseguição de jornalistas.

Comunidade internacional: tigre sem dentes?

Bashiru Ali, perito em política internacional da Universidade de Dar-es-Salam, na Tanzânia, teme que a comunidade internacional não atue suficientemente rápido, a tempo de evitar uma escalada da violência: "A comunidade internacional está muito dividida. Não há instrumentos legais para intervir em conflitos como o da Gâmbia. Os cidadãos e líderes políticos do país terão de encontrar, eles próprios, uma solução."

13.12.16 neuneu Gambia - MP3-Mono

Em conflitos semelhantes, os interesses particulares diversos impediram que a União Africana ou outras organizações regionais tomasse medidas efetivas. Foi o que aconteceu, por exemplo, no Burundi, onde o Presidente Pierre Nkurunziza iniciou um terceiro mandato, contra o que está estipulado na Constituição e apesar das críticas internacionais.

Isolado internacionalmente

Mas o caso da Gâmbia é diferente, acrescenta Alex Vines. "Contrariamente a Nkurunziza, Jammeh não tem aliados." Não só na região como também a nível mundial, as políticas de Jammeh conduziram ao isolamento do país.

O Senegal é o único vizinho da Gâmbia e exerce, tradicionalmente, grande influência sobre o país. O ministro senegalês dos Negócios Estrangeiros espera do Presidente gambiano apenas uma coisa: "Exigimos ao Presidente Yahya Jammeh que respeite o resultado das eleições, que garanta a segurança do Presidente eleito e que crie as condições para uma transição pacífica do poder no próximo mês", afirmou Mankeur Ndiaye.

"Neste momento, negoceia-se", diz o especialista Alex Vines. "Mas, se não se chegar a um compromisso, a CEDEAO poderá optar por um caminho mais duro, inclusive uma possível uma intervenção militar de longa duração."

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