HIV-SIDA provoca mudanças nos ritos de circuncisão masculina em Moçambique
27 de dezembro de 2013As mudanças de atitude em relação à prática da circuncisão acontecem numa altura em que o Governo tem lançado programas de sensibilização sobre os efeitos negativos de rituais de iniciação.
Durante a circuncisão com métodos tradicionais, localmente designada por emuali, ou ritos de iniciação, as crianças, adolescentes e jovens circuncisados (chamados Lukhos) são aquartelados num período de 30 a 40 dias. Para além da educação moral, são submetidos a vários testes, como cuidar do lar, tratar de cadáveres e até cerimónias fúnebres.
Tradicional e o moderno
Chehe Abdala, de 75 anos de idade, natural da província de Nampula, promove ritos de iniciação há cerca de 30 anos. “Antigamente a circuncisão era feita de uma forma muito simples: uma faca para muitas pessoas. Hoje cada circuncisado tem o seu material porque o processo antigo trazia problemas como o HIV/Sida”, reconhece.
Chehe Abdala conta que este ano, pela primeira vez, abandonou os métodos tradicionais e optou pela circuncisão feita no hospital. Apesar de considerar que este tipo de operação é segura, lembra a importância dos rituais da circuncisão como uma prática e costume local. “A pessoa não circuncisada não participava em cerimóneas fúnebres pois não tinha conhecimentos para tal.”
O docente universitário Lucas Mangrasse defende que a circuncisão masculina, realizada de forma tradicional por grupos conservadores, não é aceitável pelas sociedades modernas, uma vez que pode provocar a propagação de doenças infeciosas. Apesar de não ser contra o culto de tradições, Mangrasse acredita que elas poderiam ser revistas. “Os nossos jovens precisam de educação. E essa educação, independentemente de ser oficial ou não, acho que há algo a aproveitar nesses ritos de iniciação tradicionais. Mas julgo que o que deveria ser retificado é que a própria circuncisão não deveria ser feita em moldes tradicionais.”
Tradição e Práticas seguras
Por outro lado, o professor Sebastião Miranda Zambo considera que a circuncisão masculina com recurso a métodos tradicionais não é a causa da propagação de infeções e do HIV/SIDA, uma vez que a prática já vem sendo realizada há muitos anos. O professor sublinha ainda que a circuncisão masculina com métodos tradicionais melhorou bastante, já que os líderes tradicionais contratam enfermeiros e pessoas especializadas para a realização das cirurgias.
Segundo Joselina Calavete, médica chefe e generalista na Direcção Provincial de Saúde em Nampula, a instituição já tem um plano para trabalhar com os líderes tradicionais, para que a circuncisão masculina seja realizada de forma segura e regulada, evitando a propagação de doenças infeciosas incluindo o HIV/SIDA.
“O nosso papel é garantir que este processo ocorra da maneira mais saudével possível, considerando todas as normas de seguranca”, declara. Este ano, a Direcção Provincial de Saúde assistiu, através do Programa Nacional de Saúde, mais de 6300 circuncisões nos 21 distritos de Nampula, revelou Calavete.