Há 30 anos no poder, Déby disputa mais um mandato no Chade
9 de abril de 2021Pelo menos 7,3 milhões de eleitores irão às urnas este domingo (11.04) para eleger o Presidente no Chade. No boletim de voto, consta o nome de dez candidatos, embora três deles retiraram-se da corrida presidencial, alegando que foram intimidados numa eleição que já estaria "manipulada" em favor do Presidente Idris Déby Itno.
Déby é um militar experiente, que obteve uma patente de Marechal no ano passado, atingindo a mais alta distinção militar. Poucos oficiais e ditadores pelo mundo receberam este título.
Chegou ao poder em 1990, através de um golpe militar que derrubou Hissene Habre da presidência. Desde então, Déby está no cargo, vencendo as cinco eleições presidenciais que disputou.
"A maioria dos jovens entre vós não nasceu quando cheguei ao poder", disse aos apoiantes num comício em N'Djamena, na terça-feira (06.04).
Manipulação política
Os críticos descrevem o Presidente Déby como um homem forte que lidera o país com um estilo autocrático. Acusam-no de transformar o Chade no seu quintal. O militar governa uma nação profundamente fragmentada, com múltiplos grupos étnicos e clãs lutando pelo poder uns contra os outros.
Ao contrário dos seus antecessores, Déby manteve-se no poder durante 30 anos, graças principalmente à sua astúcia e destreza política e táctico-militar.
Os seus críticos dizem que ele usa as receitas do petróleo para construir uma rede clientelista e uma estrutura de repressão aos dissidência. O político da oposição Yaya Dillo Djerou diz que "divisões frequentes entre os atores políticos também permitiram a Déby perpetuar o seu reinado na fragmentação, intoxicação e manipulação", disse Djérou à DW.
Ele acusa o líder chadiano de usar as receitas estatais para comprar aliados e aproveitar a guerra contra os jihadistas no Sahel para atrair os países ocidentais para o seu lado. "Isto tem permitido a Deby reprimir vozes dissidentes, incluindo com o assassínio de atores de credibilidade".
A 28 de fevereiro, a casa de Djérou em N'Djamena foi invadida por forças governamentais, e cinco dos seus familiares, incluindo a sua mãe e filho, foram mortos. O seu plano era desafiar o Presidente Déby nas urnas no pleito deste domingo. Agora, o político está escondido.
Ruptura da dissidência
A organização Human Rights Watch denunciou esta quinta-feira (08.04) que as forças de segurança do Chade "reprimiram impiedosamente os manifestantes e a oposição política na campanha para as presidenciais de domingo".
"Enquanto muitos chadianos estão a tomar corajosamente e pacificamente as ruas para apelar à mudança e ao respeito pelos seus direitos básicos, as autoridades do Chade respondem esmagando a dissidência e a esperança de uma eleição justa ou credível", disse Ida Sawyer, diretora-adjunta para África da Human Rights Watch.
Alain Didah Kemba, o coordenador nacional da ONG "Citoyez le temps", tem organizado os protestos em N'Djamena - exigindo às autoridades que respeitem as liberdades civis. Nos últimos quatro anos, Kemba foi preso quatro vezes e encarcerado por promover aquilo a que o governo chamou "assembleia ilegal". "Estamos a lidar com um regime corrupto e isso levou a uma governação terrível", disse Kemba à DW.
Segundo a oposição e os grupos de direitos humanos, centenas de jovens e membros da oposição estão presos.
Permanência "justificada"
O líder chadiano diz que ainda tem muito a oferecer ao seu povo. Deby prometeu estabilizar a nação e construir a economia nacional.
O seu porta-voz Brah Mahamat justifica o longo tempo no poder, dizendo que o seu chefe é um homem visionário que deu a volta ao infortúnio do país e construiu o setor da educação.
"O Presidente Idris Déby Itno tem 30 anos de experiência, 30 anos de sacrifício pelo seu país", disse Mahamat à DW. Rebatendo todas as alegações, acrescenta: "O presidente explorou o petróleo do Chade para permitir que o país construísse novas infraestruturas".
Mudanças nas regras
As eleições de domingo terão sete pessoas a disputar a presidência, mas os críticos do Governo dizem que os atuais membros da oposição foram impedidos de concorrer ao cargo.
As hipóteses de Succes Masra enfrentar Idris Déby caíram por terra após a revisão da Constituição de 2018, que estabeleceu que os candidatos presidenciais devem ter no mínimo 40 anos. Masra tem apenas 38 anos. "Ele [Presidente Idris Déby ] não quer que eu me candidate ao cargo; foi por isso que mudou a idade mínima exigida", disse Masra à DW.
Apesar das críticas e alegações severas contra o Presidente, seus apoiantes de peso, como Desire Mbairamadji, veem Déby como um dirigente capaz de fazer avançar o país. "Ele é o único Presidente chadiano que construiu universidades nas províncias", disse Mbairamadji, acrescentando que o atual Presidente é o único homem capaz de enfrentar as ameaças terroristas que o país e o Sahel enfrentam.
A nação do Sahel produz 1,5 mil milhões de barris de petróleo, o que a torna um dos maiores detentores de reservas petrolíferas de África. Cerca de 60% do orçamento nacional provém das receitas petrolíferas.