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Identidade cultural de Cabinda está a cair no esquecimento?

Simão Lelo
12 de abril de 2021

Analistas ouvidos pela DW África falam em perda de identidade cultural na província angolana de Cabinda e apontam como uma das principais razões a presença, cada vez maior, de imigrantes dos países vizinhos no enclave.

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Angola | Straßenszene in Cabinda
Mercado de São Pedro em CabindaFoto: Getty Images/AFP/D. G. Pensador

A província de Cabinda tem características culturais bastante marcantes e, entre elas, está a língua local, o ibinda. Mas falar este idioma ou português, institucionalizado como língua oficial do país, torna-se cada vez mais difícil em alguns locais devido à chegada massiva de estrangeiros à província, oriundos principalmente da República Democrática do Congo e da República do Congo.

As autoridades tentam combater a imigração ilegal, inclusive intensificando as medidas de controlo nas fronteiras com os países vizinhos, mas os relatos dão conta da entrada de imigrantes por vias clandestinas.

Angola Markt in Cabinda
No mercado de São Pedro muitos dos comerciantes são provenientes da República Democrática do CongoFoto: Simão Lelo/DW

Como resultado, a presença dos imigrantes tem popularizado o francês e a língua materna dos congoleses, o lingala.

Nos locais de maior circulação, onde já não se ouve tanto o ibinda ou o português, comerciantes cabindenses criticam a situação.

"De certa forma a nossa cultura está ameaçada porque nota-se que uma boa parte já fala lingala. Aqui no São Pedro por exemplo, nota-se que a maior parte que vende neste mercado são provenientes da República Democrática do Congo", dizem.

Conhecer a história

Alguns moradores defendem em Cabinda a necessidade de uma maior divulgação dos factos históricos e culturais protagonizados pelos ancestrais para que as atuais gerações sejam informadas sobre a sua importância e o impacto na cultura tradicional, de modo a que se verifique uma estabilidade cultural.

"Triste realidade que notamos aqui na nossa própria província, onde o próprio estrangeiro fala mais a sua própria língua em vez da nossa", lamenta o comerciante Domingos Figueiredo.

Analistas ouvidos pela DW África temem que a situação se agrave e pedem uma intervenção da Secretaria da Cultura local.

Angola | Alltag der Bevölkerung in Cacongo
Analista alerta para o perigo do desaparecimento de certos traços culturais de CabindaFoto: Simão Lelo/DW

O analista José Puna alerta para o perigo do desaparecimento de certos traços culturais de Cabinda. "Deve haver políticas do Estado capazes de persuadir as populações a absorverem o lado bom das novas culturas para que isto não venha afetar negativamente o desempenho ou a identidade das nossas populações".

 "Em determinadas igrejas, os pastores quando estão a pregar, tem sempre um tradutor que faz a tradução da língua portuguesa para o Lingala. Isto quer nos levar a refletir que nós estamos preocupados com o estrangeiro que está aí e que não se importa com a nossa língua mesmo estando no nosso solo", defende.

Atentado à cultura?

Por seu turno, o analista Augusto Tomás entende que não se trata de um atentado ou ameaça à cultura cabindense.

"Como todo e qualquer fenómeno, há sempre um ponto positivo e negativo. Na verdade, os donos da cultura é que precisam efetivamente criar condições, criar um esforço para não se deixarem levar, porque é possível nós tirarmos alguns pontos positivos, pois a diversificação da língua permite que algumas pessoas aprendam um pouquinho a culturas dos outros", sublinha.

A DW África tentou contactar a Secretaria da Cultura de Cabinda, porém sem sucesso.

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