Instabilidade dificulta erradicação da pólio na Nigéria
26 de outubro de 2012Assinala-se no domingo (28.10) o Dia Mundial da Luta contra a Poliomielite, uma doença viral altamente contagiosa que afeta principalmente as crianças de tenra idade. À semelhança da varíola, a poliomielite, também conhecida como pólio ou paralisia infantil, está a caminho de ser completamente erradicada em todo o mundo graças às inúmeras campanhas de vacinação que têm sido levadas a cabo. No entanto, a doença é ainda endémica em três países: Afeganistão, Paquistão e Nigéria, que nos últimos tempos conheceu novos casos.
O quadro preocupa nomeadamente os líderes políticos locais, mas também os médicos e a sociedade civil no seu todo. Umaru Patê, chefe do departamento de comunicações na Universidade de Maiduguri, no Estado de Borno, viajou por toda a Nigéria com o objetivo de estudar os efeitos devastadores da epidemia no seio da população.
Diz ter encontrado pessoas que podem ser classificadas em duas categorias. Uma primeira categoria de pessoas “de difícil acesso, ou seja, indivíduos que por algum motivo não é possível alcançar devido à topografia da região ou por razões geográficas às vezes são acessíveis, mas de difícil contacto, especialmente nas cidades. A segunda categoria refere-se a “pessoas que vivem nas cidades, mas por algum motivo desenvolveram atitudes muito negativas em relação às campanhas de vacinação.”
Instabilidade e desconfiança dificultam campanhas
Um fator que muito tem contribuído para o aumento dos casos da pólio na Nigéria é a ausência das campanhas de vacinação no norte do país devido à contínua instabilidade que se vive nos Estados da região. Uma insurreição islâmica liderada pelo grupo radical islâmico Boko Haram tem provocado milhares de mortos e criado uma onda de medo e terror, dificultando desta forma os esforços de vacinação. Há apenas duas semanas, dois oficiais da polícia encarregues da segurança de uma equipa de vacinação foram mortos em Maiduguri por homens armados que se presume pertencerem ao Boko-Haram.
A desconfiança local é apenas um dos muitos problemas que as autoridades nigerianas enfrentam para a erradicação completa da paralisia infantil no país.Também há questões operacionais, tais como a localização exata onde as pessoas moram e a falta de gelo para manter as vacinas conservadas a uma temperatura adequada.
“Na Nigéria, o problema é mais operacional e isso tem o seu reflexo negativo nas campanhas de imunização”, disse à DW África Oliver Rosenbauer, porta-voz da Iniciativa Global para a Erradicação da Poliomielite, da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Tradicionalmente essas campanhas não foram devidamente planeadas e suficientemente bem implementadas. Na verdade, nove em cada dez casos são por razões operacionais e um porque um pai pode recusar a permissão dos seus filhos serem vacinados”, explica.
Aposta na erradicação progressiva
Segundo especialistas, a poliomielite pode atacar qualquer idade, mas sobretudo as crianças. Com cerca de 50 milhões de nigerianos com menos de cinco anos de idade, a doença contagiosa é um grande risco para a saúde pública. Por isso, o imam Ameen Al-Deen Abubakar, que no passado sempre se opôs à vacinação, agora apoia as campanhas de imunização. “Sou um líder e uma figura pública e, por conseguinte, devo ajudar a minha comunidade. Hoje considero a poliomielite uma doença mortal e difícil de ser curada. Então, decidi apoiar a vacinação, a imunização porque não é mau de todo”, reconhece.
Os governos estaduais e o próprio presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, têm desenvolvido grandes esforços com vista à erradicação progressiva da paralisia infantil no país e, segundo vários especialistas, tem-se registado algum progresso particularmente nos Estados do sul. A OMS está convencida que com mais agressividade a erradicação da pólio vai acontecer nos Estados do norte e refere como exemplos a Índia, onde muitos pensavam que seria impossível a erradicação da doença.
A luta para a erradicação da poliomielite no continente africano poderá incluir, nos próximos tempos, uma vacina injectável combinada, como afirmou recentemente em Luanda, capital de Angola, o diretor regional da OMS, Luís Sambo. Até agora, a luta contra a poliomielite tem sido feita através de vacinas orais, administradas a crianças dos zero aos cinco anos.
Autores: Benjamin Mack/António Rocha
Edição: Madalena Sampaio