Intervenção queniana na Somália provoca controvérsias
31 de outubro de 2011Um ataque aéreo de forças quenianas matou pelo menos cinco pessoas e feriu outras 45 em território somali. Conforme a ONG Médicos sem Fronteiras, a maioria das vítimas da investida queniana teria sido mulheres e crianças de um campo de desalojados.
Quênia nega morte de civis
Um porta-voz do governo queniano confirmou que a força aérea do país atingiu alvos na cidade de Jilib, onde o campo de refugiados está localizado. Porém, a informação de que civis tenham sido vítimas do ataque aéreo é negada. Para o Quênia, as alegações são propaganda dos rebeldes Al Shabab. Os militares quenianos informaram que dez integrantes da milícia foram mortos.
O ministro da Defesa somali, Hussein Arab Isse, também negou que os ataques teriam atingido o campo para refugiados. Às agências de notícias, ele afirmou que o alvo era um grupo de veículos militares que rumava em direção ao Quênia e que dúzias de insurgentes foram mortos.
A ONG Médicos Sem Fronteiras já se retirou da área que abriga 1.500 famílias e adiou a entrega de mantimentos, prevista para segunda-feira (31/10).
'Suspeitos até que se prove o contrário'
Denúncias de muçulmanos quenianos já davam conta de excessos cometidos por forças quenianas contra cidadãos do próprio país nos últimos dias.
Bakari Juma, da juventude mulçumana de Majengo, localidade queniana ameaçada pela milícia, diz que muçulmanos estão a ser alvo de perseguição policial. "São presos após qualquer ataque, mesmo sendo inocentes e não tendo relação com a milícia Al Shabab", denuncia.
Al Shabab é acusada de perpetrar sequestros e ataques em solo queniano. Os insurgentes também estariam realizando investidas frequentes contra postos militares do lado queniano da fronteira entre os dois países.
O correspondente da Deutsche Welle na capital somali, Hussein Aweys, comenta que muitos habitantes de Mogadíscio saúdam a intervenção queniana contra as milícias Al Shabab, mas que existem questões a serem esclarecidas.
Ele diz que muitas pessoas acreditam que o Quênia precisa de apoio internacional, do contrário será difícil ter sucesso nesta investida militar na Somália porque "além do Al Shabab ser muito forte, eles usam diferentes táticas de combate".
A briga por Mogadíscio
A ofensiva militar queniana abre outra frente de combate no interior do país além da integrada pelas tropas da União Africana, que disputam o controle militar de Mogadíscio com milicianos.
O enviado das Nações Unidas para a Somália, Augustine Mahiga, disse, nesta segunda-feira (31/10), que as tropas do governo somali e a missão especial da União Africana controlam 98% da área costeira da capital, mas que os 9 mil soldados da União Africana necessitariam de reforço para lidar com o estilo de combate da guerrilha.
Ele destacou à imprensa queniana que seriam necessários helicópteros e equipes de engenheiros para lidar com o modelo de combate das milícias Al Shabab, ligadas a rede Al Qaeda.
Para Emmanuel Kisyang'ani, do Instituto para Estudos sobre Segurança, em Nairóbi, será muito difícil evitar danos colaterais nesta luta contra as milícias. "Ainda mais se tratando de um grupo terrorista como o Al Shabab que não tem base fixa", acredita o especialista.
Na opinião dele, seria melhor aceitar a proposta de diálogo do grupo Al Shabab. Kisyang'ani ressalta que para o exército queniano ganhar esta guerra precisaria ficar um longo tempo nestes territórios, o que elevaria demais os custos da investida militar.
Autor: Alfred Kiti / Marcio Pessôa
Edição: Bettina Riffel