Jean-Pierre Bemba denuncia "farsa eleitoral" na RDC
5 de setembro de 2018A exclusão de Bemba das presidenciais previstas para 23 de dezembro, após ser condenado por "suborno de testemunhas" pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), foi confirmada pelo Tribunal Constitucional congolês, depois de a Comissão Eleitoral Nacional Independente ter declarado a candidatura inadmissível em agosto.
Em entrevista ao canal de televisão France 24, Jean-Pierre Bemba denunciou o que classifica como uma "encenação" para que o Presidente Joseph Kabila possa escolher o seu sucessor, eliminando "candidatos sérios".
Acusações repetidas pela secretária-geral do seu partido, o Movimento para a Libertação do Congo, Eva Baziba: "A instrumentalização do poder judicial em geral, e do Tribunal Constitucional em particular, que toma decisões seguindo ordens políticas, que altera a natureza dos sistemas legais congoleses, ameaça a continuidade do processo eleitoral."
Suborno de testemunhas e corrupção
Jean-Pierre Bemba regressou à RDC a 1 de agosto para apresentar a sua candidatura, após ser absolvido pelo TPI de acusações de crimes de guerra. No entanto, foi condenado num caso paralelo por suborno de testemunhas.
Para o Tribunal Constitucional, "o suborno de testemunhas é uma circunstância agravante no crime de corrupção" e, por isso, Bemba não pode concorrer às eleições. Já os apoiantes do ex-líder rebelde afirmam que o suborno de testemunhas é diferente da corrupção e não faz parte dos motivos de invalidação de uma candidatura, segundo a lei eleitoral.
No entanto, para Deogratius Kulu Kasereka, especialista em democracia e questões constitucionais, a lei é clara. "Ninguém pode candidatar-se à Presidência se for alvo de um processo legal. Há uma lei que impede alguém de concorrer se não tiver vivido no país no passado ano e meio. Foram estas leis que 'apanharam' Bemba, explica Kasereka, que faz parte da Coligação para a Transição para a Democracia - que luta por um período de transição na República RDC.
Sucessão de Kabila
Em resposta ao afastamento do seu candidato, o partido de Jean-Pierre Bemba lança um alerta: "Ninguém pode recriminar o MLC por uma inclinação ativa para ações civis em grande escala. Anunciamos a criação de um comité de crise com outras forças da oposição para definir uma agenda de acções civis para que o povo congolês possa reclamar os seus direitos fundamentais confiscados por um grupo de predadores."
Jean-Pierre Bemba tem sido considerado um sério candidato à sucessão do Presidente Joseph Kabila, cujo segundo mandato deveria ter terminado em dezembro de 2016. Kabila não pode voltar a candidatar-se e designou um "delfim", o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary.
No entanto, o Presidente congolês tem sido acusado pela oposição e observadores de interferir no processo eleitoral para afastar os seus opositores. Além de Jean-Pierre Bemba, outros cinco dos 25 candidatos que se registaram para concorrer à Presidência foram afastados pela Comissão Eleitoral.