Jovens angolanos perseguidos no Lubango por convocarem manifestação
1 de outubro de 2013Apesar de Angola ser um dos países mais ricos em recursos naturais do mundo, a situação social em que vive grande parte dos cidadãos angolanos parece não acompanhar a riqueza interna, segundo alguns elementos da sociedade civil angolana.
Angola tem atualmente a capital mais cara do mundo, Luanda, onde, segundo os cidadãos, a sobrevivência diária é fruto de um enorme sacrifício. A necessidade de mudar o quadro dizem ser urgente, visto que a concretização de ter uma casa própria ou alimentação condigna não passam de discursos, explicam.
Por exemplo, as intervenções governamentais para acudir os sinistrados da seca, segundo os mesmos, foram pouco expressivas, ao passo que, para a construção de três multi-usos no país para receber o Campeonato Mundial de Hóquei, que decorreu de 20 a 28 de setembro, investiu-se perto de 75 milhões de euros.
Manifestação convocada
Os magros salários da função pública, sobretudo das Forças Armadas angolanas, da Polícia Nacional e dos antigos combatentes, a não existência de projetos específicos de financimento para mercados informais que constítuem a principal fonte de rendimento das famílias angolanas, a má qualidade da educação e saúde, a resolução imediata da greve dos professores do ensino geral na província da Huíla são alguns dos onze pontos agendados pela Associação Cidadania Ativa (ACA), que está a convocar uma manifestação para o dia 19 de setembro, pelas 15:00.
Formada maioritariamente por jovens universitários em 2012, a ACA tem como objetivo principal incentivar os cidadãos a participarem de forma activa na vida publica de Angola.
Apesar da manifestação da ACA ter sido devidamente comunicada às autoridades, a mesma foi impedida no local por agentes da Polícia Nacional. Foram diversos os elementos que surgiram fortemente armados. Os fardados estavam afectos ao corpo da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e à paisana registou-se um número indeterminado de elementos policiais.
Ameaças de morte
"Recebemos muitas mensagens de morte e acusavam-nos de sermos da CASA-CE (Convergência Ampla para a Salvação de Angola - Convergência Eleitoral) ou da UNITA (União Nacional para a Indepedência Total de Angola)", conta José Macuva, presidente da ACA. O jovem relembra ainda que "a democracia não é um pacto de silêncio".
Tentativas de raptos no terreno são tidas como certas da parte da Polícia Nacional, de acordo com o presidente da ACA. Apesar das circunstâncias José Macuva diz que a ACA está determinada a continuar com estas ações. "Até pessoas que não fazem nada também recebem ameaças", afirma. Ainda assim, José Macuva relembra que "para a frente é que é caminho".
O porta-voz do comando provincial da Polícia Nacional na Huila, superintendente chefe Paiva Chandala Tomás, mostrou-se indisponível para prestar declarações à DW África.
Perante esta situação, não se fizeram esperarreações. Dom Francisco Viti, arcebispo emérito da Arquidiocese do Huambo, diz que o diálogo é fundamental para que Angola seja um país coeso indepedentemente da filiação partidária ou credo religioso.
"Angola precisa de aprender a crítica construtiva", afirma. Para o bispo, "o bem é sempre bem e merece louvor, seja praticado por aqueles que estão no poder ou por aqueles que estão na oposição. Este é o espirito que vai levantar Angola e torná-la grande".