Julgamento sumário em Cabinda de ativistas independentistas
15 de agosto de 2018Os membros do MIC, um novo movimento que visa a independência do enclave angolano e a defesa de forma não violenta dos direitos fundamentais do povo de Cabinda, foram detidos no sábado (11.08) por agentes dos Serviços de Investigação Criminal (SIC), sob a alegação de atos preparatórios contra a segurança do Estado e instigação à violência.
As detenções foram feitas na residência do presidente do MIC, Maurício Gimbi, momentos antes de um encontro para apresentação pública da nova organização independentista de Cabinda.
Os 13 ativistas começaram a ser julgados esta terça-feira (14.08) pelo Tribunal Provincial de Cabinda e incorrem em crimes que vão até 12 anos de prisão.
A acompanhar o assunto está Raul Tati, ativista de Cabinda e deputado da União Nacional para a Independência Toral de Angola (UNITA), o maior partido na oposição.
"Segundo as fontes policiais, os jovens terão sido persuadidos a não fazer o encontro e teriam registado alguma resistência, incorrendo naquilo a que eles chamam de instigação e desobediência à autoridade. Os jovens dizem que não foi exatamente o que aconteceu. Quando eles preparavam a apresentação, a polícia veio e começou a prendê-los", conta em entrevista à DW África.
Raul Tati já visitou os detidos e diz que os jovens foram postos numa cela sem quaisquer condições. "O lugar onde estão não dá nem para animais, mete dó", lamenta. Revela ainda que os 13 jovens do MIC dizem temer pela vida.
Diálogo com João Lourenço
O deputado da UNITA deixa um apelo ao Presidente angolano, João Lourenço, para dialogar de forma aberta sobre os problemas de Cabinda, ao invés de dar continuidade à política do seu antecessor. Deve "sentar-se com os cabindas e encontrar uma modalidade política e administrativa que possa ser aprovada pelos cabindas", defende.
"Se prender grupos e algumas personalidades de Cabinda, nunca vai resolver o problema. Eu não acredito que estes jovens, uma vez presos, desistam das suas convicções e daquilo que pretendem", afirma Raul tati.
À semelhança da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), movimento de guerrilha que há mais de três décadas vem exigindo ao poder político de Luanda a desanexação de Cabinda do território angolano, o novo movimento surge como os mesmos propósitos.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir a Procuradoria-Geral da República (PGR) e os advogados dos acusados.