Legislativas na Gâmbia: A prova dos nove para Barrow
5 de abril de 2017"Lutas como um leão, Yahya Jammeh, queremos-te de volta", cantam apoiantes do ex-Presidente da Gâmbia durante uma ação de campanha da Aliança Patriótica para a Reorientação e a Construção (APRC).
Jammeh foi derrotado nas eleições presidenciais de dezembro passado, mas, ao longo de várias semanas, recusou sair do poder. A Gâmbia mergulhou numa crise política até o ex-chefe de Estado partir para o exílio na Guiné Equatorial.
Adama Barrow, o líder da oposição coligada contra Jammeh, tomou posse como Presidente. Mas, meses depois, muitos suspiram pelo antigo chefe de Estado.
"Yahya Jammeh contribuiu bastante para o desenvolvimento do país. Ele ainda é o líder do APRC", afirma Modou Njie, um dos candidatos do partido de Jammeh às legislativas. "Esteja ele aqui ou não, há pessoas que o representam aqui e vão assegurar que as ambições políticas da juventude gambiana vão perseverar."
Memórias terríveis do passado
Fatoumata Jawara espera, no entanto, que isso não aconteça. No ano passado, a ativista política foi torturada e espancada por protestar contra o regime de Jammeh. Agora, candidata-se pelo partido do novo Presidente, o Partido Democrático Unido (UDP).
"Para mim, esse regime corrupto nem deveria ter um assento sequer no Parlamento pela forma como trataram o povo gambiano. Eles nem deviam ser autorizados a permanecer na Gâmbia. As pessoas foram assediadas, espancadas, mortas, torturadas. E eles querem trazer isso de volta. Ninguém gosta disso", afirma.
Ao todo, 239 candidatos de nove partidos disputam 53 lugares no Parlamento da Gâmbia. E, contra a vontade de Fatoumata, prevê-se que o partido de Jammeh conquiste vários assentos.
Oposição que apoiou Barrow divide-se?
Agora que Yahya Jammeh já não está no país, a coligação de partidos que apoiou o novo Presidente Adama Barrow nas presidenciais também apresenta sinais de fissuras. Mas se Barrow não conseguir uma maioria que o apoie no Parlamento, poderá ter dificuldades em cumprir com o que prometeu nas presidenciais: mais liberdades para os cidadãos gambianos e a inversão de muitas das políticas de Jammeh.
Vários observadores esperam uma participação eleitoral alta nas legislativas desta quinta-feira.
"O Presidente Jammeh era um ditador. Agora, precisamos urgentemente de deputados para mudar as leis que não são boas", diz um comerciante da localidade de Serekunda, Pa Keita. Não é o único a pensar assim. Muitas pessoas sentem que, pela primeira vez em décadas, o seu voto pode realmente conduzir a mudanças.
Para estas eleições o Governo gambiano convidou, pela primeira vez, observadores eleitorais da União Europeia. Segundo Thomas Boserup, um dos responsáveis da missão, "as campanhas eleitorais têm sido pacíficas e ordeiras".
Boserup remeteu, porém, uma avaliação detalhada para depois do escrutínio.