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Luanda: Execução de suspeito pela polícia deve ser punida

Lusa | tms
2 de junho de 2018

O Ministério do Interior determinou a "responsabilização criminal e disciplinar" do agente do Serviço de Investigação Criminal acusado de executar um suspeito de roubo. Governo classifica o ato como "ignóbil".

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Comando Provincial de LuandaFoto: DW

O caso, que ocorreu na capital angolana na sexta-feira (01.06), está a ser descrito como uma "execução sumária" por parte do agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e foi filmado por uma cidadã, tendo rapidamente sido denunciado e partilhado nas redes sociais, com internautas a apoiar e outros a desaprovar a atuação do agente de segurança, conforme noticiaram os meios de comunicação social angolanos neste sábado (02.06).

No vídeo é possível ver o alegado meliante deitado no chão, visivelmente ferido e a tentar levantar-se, perante o olhar de agentes do SIC. Ao fim de alguns minutos, e com a população a assistir, um elemento do SIC aproxima-se e realiza vários disparos na direção do jovem, que acaba por morrer no local, na rua.

ANGOLA Verteidigungsminister João Lourenço (L)
Presidente disse não saber de violações dos direitos humanos desde que assumiu o cargo Foto: Getty Images/AFP/A. Rogerio

Ato "ignóbil"

Em comunicado, o Ministério do Interior esclarece que, no âmbito das operações realizadas pelas forças de segurança "no combate ao crime violento", uma brigada do SIC de Luanda esteve sexta-feira em perseguição a um grupo de meliantes armados, que circulavam a bordo de uma viatura roubada no dia anterior.

Os agentes do SIC, acrescenta o comunicado citado pela agência de notícias Lusa, entraram "em confronto" com os meliantes, tendo um dos policiais "atingido mortalmente um marginal em circunstâncias injustificadas, uma vez que a vítima se encontrava já sob completo domínio".

"Pelo ato ignóbil praticado pelo referido agente, orientou-se o diretor-geral do SIC a tomar imediatamente todas as medidas que se impõem no sentido de proceder à responsabilização criminal e disciplinar", refere o comunicado do Ministério do Interior.

"Esquadrões da morte"

Rafael Marques
Rafael Marques fala em grupos de extermínioFoto: Maka Angola

Entretanto, o SIC rejeitou em novembro passado a existência de "esquadrões da morte", elementos daquela polícia que percorrem Luanda com uma lista de alegados criminosos a abater, mas garantiu na altura que iria encaminhar as denúncias à Procuradoria-Geral da República. Em causa estava uma denúncia do jornalista angolano Rafael Marques, que divulgou alegados casos desta prática extrajudicial e que já teria provocado mais de 90 mortos.

"Os esquadrões de morte, em Angola, nunca existiram. Portanto, nós também tivemos acesso a esta informação, dizer aqui que vamos solicitar junto da Procuradoria para que essas pessoas venham aos autos e deem a informação em concreto, de forma a facilitar todos esses processos que ainda estão pendentes", afirmou na altura o diretor provincial de Luanda do SIC, Amaro Neto.

O jornalista Rafael Marques, que divulgou um relatório completo sobre estes casos, garantiu que já tinha levado o assunto ao ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, a 29 de maio de 2017. "Disse-me que já tinha pedido à Procuradoria-Geral da República [PGR] para investigar com base no relatório preliminar que lhe tinha encaminhado. O SIC estará a duplicar o pedido já feito pelo ministro? Não houve tal pedido por parte do ministro? Ou a PGR ignorou a diligência do ministro", questiona Rafael Marques.

A investigação, feita desde abril de 2016, avança que estes alegados agentes do SIC atuam, sobretudo, nos municípios de Viana e Cacuaco, os mais populosos e inseguros da província de Luanda. O relatório de Rafael Marques aponta para 50 casos suspeitos de execução sumária, num total de 92 jovens vítimas, alegadamente delinquentes, abatidos pelos agentes do SIC. O último dos casos teria ocorrido a 06 de novembro, com três jovens mortos.

Em entrevista ao portal de notícias Euronews, o Presidente da República de Angola, João Lourenço, disse que o seu Governo está a trabalhar para que casos que violação dos direitos humanos não aconteçam no país. Entretanto, Lourenço afirmou desconhecer a existência de violações como estas desde que assumiu o cargo há oito meses. "Estarei atento para que isso não aconteça", disse.