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Luta pelo poder volta a inquietar a Costa do Marfim

14 de junho de 2012

Entre novembro de 2010 e abril de 2011, a Costa do Marfim foi assolada por uma sangrenta luta pelo poder, que custou a vida a 3 mil pessoas. Mais de um ano após o conflito, emergem novos motivos de preocupação.

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Soldados das Nações Unidas em Abidjan, em janeiro de 2011
Soldados das Nações Unidas em Abidjan, em janeiro de 2011Foto: dapd

Laurent Gbagbo perdeu as eleições presidenciais de 28 de novembro de 2010 e tentou imepedir a tomada de posse do seu rival Alassane Ouattara. Perante os conflitos entre as partes, foi necessária a intervenção de tropas das Nações Unidas e da França.

Ouattara entregou Gbagbo ao Tribunal Penal Internacional, onde o ex-Presidente da Costa do Marfim aguarda julgamento, desde novembro de 2011, por crimes contra a humanidade. Mas a crise ainda não terminou, diz Rinaldo Dapagne, especialista para a África Ocidental do Grupo de Crise Internacional (ICG): “ainda há um pequeno grupo de extremistas que está em contacto com o ex-governo e que pretende derrubar Ouattara”.

A afirmação é secundada pelo governo de Alassane Ouattara, que nas últimas semanas, não se cansou de alertar para alegados planos de usurpação dos adeptos do anterior executivo. O especialista Rinaldo Depagne acredita que os acólitos de Gbagbo atuam, sobretudo, a partir do estrangeiro.
Um vídeo que anuncia um golpe de Estado e que circula pela internet também foi produzido fora do país. Mas há quem duvide que o filme seja autêntico. Jens Hettmann, representante da fundação política alemã Friedrich Ebert, em Abidjan (capital económica da Costa do Marfim), mostra-se cético.

Hettmann lembra que as forças de segurança podem ter torturado prisioneiros para os obrigar a prestar certas declarações, inlcuindo a confissão diante de câmaras de televisão do ex-ministro da Defesa, Moise Lida Kouassi, de que participara numa conspiração contra o atual governo. As declarações foram filmadas depois do Togo ter repatriado à força o ex-governante.

O representante da fundação política alemã adianta que nem só os acólitos do ex-Presidente representam uma ameaça para a segurança na Costa do Marfim. Hettmann recorda que "em todo o caso devemos constatar que nenhum dos dois lados em conflito procedeu a um desarmamento mental”.

Sinais de alerta
O especialista diz que há motivos de inquietação. No oeste do país, na fronteira com a Libéria, registaram-se, nos últimos tempos, ataques frequentes contra civis. Quatro pessoas morreram num ataque noturno contra a aldeia de Sieblo-Ouala, na noite de 12 de junho. Três dias antes tinham sido assassinadas 18 pessoas numa aldeia vizinha, entre as quais oito capacetes azuis das Naçõea Unidas, que deviam velar pela segurança.

O governo de Ouattara acusa seguidores de Gbagbo de recrutarem mesmo crianças-soldado. Entretanto, a fronteira foi encerrada. Na altura da luta pelo poder entre Ouattara e Gbagbo, verificaram-se vários massacres de civis nesta região fronteiriça, perpetrados por milícias dos dois lados. Estes grupos ainda estão armados.

O especialista Rinaldo Depagne, do ICG, teme que a Costa do Marfm esteja a resvalar, outra vez, para uma guerra civil. Os novos ataques no oeste do país mostram que há grupos militantes que aplicam táticas de guerrilha para desestabilizar a Costa do Marfim. Para que haja paz, Depagne considera que é preciso reformar todo o aparelho de Estado, defendendo que deve "ser construído um sistema totalmente novo, no qual conte a lei e não a vingança".

Autores: Peter Hille / Cristina Krippahl
Edição: Glória Sousa / António Rocha

15.06 Costa do Marfim - MP3-Mono

Alassane Ouattara, atual Presidente da Costa do Marfim
Alassane Ouattara, atual Presidente da Costa do MarfimFoto: AP
Laurent Gbagbo é acusado de crimes contra a humanidade, incluindo assassinatos, estupros e atos de perseguição contra a população civil
Laurent Gbagbo é acusado de crimes contra a humanidade, incluindo assassinatos, estupros e atos de perseguição contra a população civilFoto: picture-alliance/dpa