Luta pelo poder volta a inquietar a Costa do Marfim
14 de junho de 2012
Laurent Gbagbo perdeu as eleições presidenciais de 28 de novembro de 2010 e tentou imepedir a tomada de posse do seu rival Alassane Ouattara. Perante os conflitos entre as partes, foi necessária a intervenção de tropas das Nações Unidas e da França.
Ouattara entregou Gbagbo ao Tribunal Penal Internacional, onde o ex-Presidente da Costa do Marfim aguarda julgamento, desde novembro de 2011, por crimes contra a humanidade. Mas a crise ainda não terminou, diz Rinaldo Dapagne, especialista para a África Ocidental do Grupo de Crise Internacional (ICG): “ainda há um pequeno grupo de extremistas que está em contacto com o ex-governo e que pretende derrubar Ouattara”.
A afirmação é secundada pelo governo de Alassane Ouattara, que nas últimas semanas, não se cansou de alertar para alegados planos de usurpação dos adeptos do anterior executivo. O especialista Rinaldo Depagne acredita que os acólitos de Gbagbo atuam, sobretudo, a partir do estrangeiro.
Um vídeo que anuncia um golpe de Estado e que circula pela internet também foi produzido fora do país. Mas há quem duvide que o filme seja autêntico. Jens Hettmann, representante da fundação política alemã Friedrich Ebert, em Abidjan (capital económica da Costa do Marfim), mostra-se cético.
Hettmann lembra que as forças de segurança podem ter torturado prisioneiros para os obrigar a prestar certas declarações, inlcuindo a confissão diante de câmaras de televisão do ex-ministro da Defesa, Moise Lida Kouassi, de que participara numa conspiração contra o atual governo. As declarações foram filmadas depois do Togo ter repatriado à força o ex-governante.
O representante da fundação política alemã adianta que nem só os acólitos do ex-Presidente representam uma ameaça para a segurança na Costa do Marfim. Hettmann recorda que "em todo o caso devemos constatar que nenhum dos dois lados em conflito procedeu a um desarmamento mental”.
Sinais de alerta
O especialista diz que há motivos de inquietação. No oeste do país, na fronteira com a Libéria, registaram-se, nos últimos tempos, ataques frequentes contra civis. Quatro pessoas morreram num ataque noturno contra a aldeia de Sieblo-Ouala, na noite de 12 de junho. Três dias antes tinham sido assassinadas 18 pessoas numa aldeia vizinha, entre as quais oito capacetes azuis das Naçõea Unidas, que deviam velar pela segurança.
O governo de Ouattara acusa seguidores de Gbagbo de recrutarem mesmo crianças-soldado. Entretanto, a fronteira foi encerrada. Na altura da luta pelo poder entre Ouattara e Gbagbo, verificaram-se vários massacres de civis nesta região fronteiriça, perpetrados por milícias dos dois lados. Estes grupos ainda estão armados.
O especialista Rinaldo Depagne, do ICG, teme que a Costa do Marfm esteja a resvalar, outra vez, para uma guerra civil. Os novos ataques no oeste do país mostram que há grupos militantes que aplicam táticas de guerrilha para desestabilizar a Costa do Marfim. Para que haja paz, Depagne considera que é preciso reformar todo o aparelho de Estado, defendendo que deve "ser construído um sistema totalmente novo, no qual conte a lei e não a vingança".
Autores: Peter Hille / Cristina Krippahl
Edição: Glória Sousa / António Rocha