Partido de Ouattara vence legislativas na Costa do Marfim
16 de dezembro de 2011Depois de quatro meses de violência e de duas semanas de guerra que fizeram 3000 mortos, a vitória nas eleições de domingo (11.12) da coligação que apoia o chefe de Estado Alassane Ouattara, no poder desde abril, já era esperada. Sobretudo depois do boicote do escrutínio levado a cabo pelo partido do ex-presidente Laurent Gbagbo, líder do segundo maior partido da oposição, a Frente Popular Marfinense (FPI), atualmente preso no centro de detenção do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.
Segundo os resultados da Comissão Eleitoral Independente (CEI) , o partido presidencial, a União dos Republicanos (RDR), obteve 127 dos 254 lugares na Assembleia Nacional (AN) costa-marfinense. Com este resultado, o RDR deverá obter a maioria absoluta sem dificuldades, juntando-se, assim, a alguns dos 35 candidatos independentes eleitos deputados.
Com o seu aliado do Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI, no poder de 1960 a 1999), do antigo presidente Henri Konan Bédié, e algumas outras pequenas formações políticas, o partido de Ouattara irá controlar praticamente sem partilha o novo Parlamento da Costa do Marfim, com cerca de 220 lugares.
A Frente Popular Marfinense (FPI) de Laurent Gbagbo boicotou as eleições, tendo justificado o gesto pela "falta de condições equitáveis". Por outro lado, exigiu a libertação de Gbagbo e de outros responsáveis detidos em várias regiões do país.
Desafios pós-eleitorais
Entretanto, o novo poder, que conta com o apoio de vários países, nomeadamente a França, diz estar satisfeito com o escrutínio que se desenrolou sem grandes incidentes e cujos resultados foram validados pelos observadores internacionais.
No entanto, muitos analistas afirmam que esta “alegria” dos responsáveis costa-marfinenses não deverá prolongar-se durante muito tempo, até porque os desafios são enormes e muitos: relançar a economia após a recessão de 2011 devido à crise pós-eleitoral, desencadear uma verdadeira política de reconciliação após uma década de violência e reformar as forças armadas, entre tantas outras tarefas.
As novas autoridades deverão ainda evitar a ideia de "uma justiça de vencedores" ao julgarem ou ao transferirem para o TPI os presumíveis autores de crimes cometidos durante a crise pós-eleitoral, quer estejam no campo dos vencedores ou dos vencidos, concluem os analistas.
Alguns observadores defendem também que a vitória esmagadora coloca, contudo, alguns problemas à aliança presidencial. O analista costa-marfinense André Konan considera que a ocupação do cargo de presidente da AN poderá ser um problema. “Por um lado, a coligação no poder corre o risco de fragilizar-se e, por outro, os próprios costa-marfinenses poderão dividir-se por motivos étnicos, concernente ao próximo presidente da AN se a maioria no poder não gerir esta questão com muita sabedoria”, destacou.
Autor: António Rocha (Com as agências AFP/Reuters)
Edição: Madalena Sampaio