Lutero Simango: "No MDM nunca fechamos portas a ninguém"
14 de janeiro de 2022Lutero Simango foi eleito, em dezembro de 2021, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força política da oposição moçambicana.
O III congresso que elegeu Simango foi marcado por momentos de agitação entre os membros do partido e a renúncia da candidatura de um dos três candidatos à presidência.
Um mês depois, Lutero Simango fala em entrevista à DW de estabilidade no seio do Galo. E nega afirmações de algumas correntes da sociedade moçambicana que o acusam de ter ligações com a FRELIMO, partido no poder.
DW África: Como é que está o MDM depois da realização do terceiro congresso?
Lutero Simango (LS): De lá para cá temos criado um diálogo permanente no seio do partido, também clima de confiança, e tenho transmitido, de uma forma constante, a mensagem da união e coesão interna como fatores determinantes para que tenhamos a nossa estabilidade interna.
DW África: O Congresso que elegeu Lutero Simango foi marcado por alguns momentos de crispação. O que realmente se passou?
LS: O que aconteceu no Congresso, eu considero que foi um processo interno, um processo que teve a participação dos membros, e agora estamos de mãos dadas a olhar para o futuro porque acredito que apenas, com a união e coesão interna, podemos ser um partido forte e coeso.
DW África: E como é atuamente a relação do presidente com os restantes candidatos derrotados no Congresso?
LS: Acreditamos que fazemos um processo com um único objetivo: o de tornar o nosso partido forte. Nesse ponto estamos todos em consenso. Agora vamos continar a trabalhar. É da responsabilidade do presidente do partido, na próxima sessão do conselho nacional, apresentar propostas para composição dos outros órgãos. Mas sempre trabalharemos no sentido de criar esse ambiente de união e coesão interna.
DW África: José Manuel Domingos continua o secretário-geral do partido?
LS: Continua. Uma decisão que tomei logo a seguir ao terceiro Congresso foi manter todos os órgãos a funcionar normalmente. Assim como todos os delegados políticos provinciais. Estão a funcionar normalmente.
DW África: Quando foi anunciado de que seria o próximo presidente do partido, algumas correntes da sociedade moçambicana terão dito que havia vencido "o candidato da FRELIMO no MDM". No seu entender, o que gera esses comentários?
LS: Conhecem a minha trajetória, conhecem as lutas políticas em que eu sempre me engajei, por isso considero-me como um candidato dentro do meu partido. A minha candidatura fez-se à luz do estatuto do partido. Apenas exerci o meu dever e estou a exercer até o momento. Portanto, não represento interesses de nenhum outro partido, à excepção dos valores e interessentes do partido MDM.
DW África: Nos últimos temos assistimos ao MDM a perder muitos membros. É chegado o momento de "fumar o cachimbo da paz"?
LS: Eu sempre disse que as portas do MDM estão abertas. Alguns saíram com muito "barulho", com muitos discursos, agora se querem regressar as portas estão abertas. Que fique claro que no MDM nunca fechamos portas a ninguém. Estamos abertos, mas é preciso compreender que o partido tem os seus estatutos.
DW África: O MDM pensa, algum dia, fazer uma coligação com outro partido numa corrida eleitoral?
LS: Tudo é discutível. O partido está sempre aberto, mas isso se discute, se dialoga, conversa-se. Mas que fique claro que não vamos fazer oposição à oposição.
DW África. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), decidiu estender o período de permanência das forças militares, por mais três meses, no teatro operacional norte no combate ao terrorismo. Como é que o MDM reage a essa decisão?
LS: A decisão é bem-vinda. Estava bem claro que o país, sozinho, não teríamos capacidade para fazer face à situação que nos é imposta no região norte. Mas, o dilema, é que acredito que os países da SADC, ao decidirem continuar em Moçambique por mais três meses, terão feito consultas junto aos seus órgãos legislativos. Quero colocar o desafio ao governo de Moçambique, de que é chegada a hora de ir ao parlamento para formalizar a presença de tropas estrangeiras em Moçambique.
DW África: Sente que há marginalização da Assembleia da República?
LS: Sim, sim. Nós todos aceitamos a presença de tropas estrangeiras em Moçambique para que haja uma mobilização política, de unir os moçambicanos ao combate ao terrorismo.