MADEM-G15: "Não vamos permitir ditadura na Guiné-Bissau"
22 de julho de 2021O líder do principal partido na Coligação que governa a Guiné-Bissau, Braima Camará, avisou nesta quarta-feira (21.07) que não vai permitir a implementação da ditadura no país e pediu desculpa ao povo pelas constantes interferências das autoridades até nos assuntos religiosos.
"Eu gostaria que este regime [no poder] fosse exemplar. Não vamos permitir a ditadura na Guiné-Bissau. Definitivamente, os guineenses devem-se entender e temos que respeitar o Estado de Direito Democrático", disse o coordenador nacional do MADEM-G15, revoltado com o facto de o Governo fixar uma data para a Festa de Sacrifício dos muçulmanos, em desacordo com a data inicialmente apontada pelas organizações islâmicas.
Os líderes religiosos disseram que acataram a imposição para atender a indicação feita pelo Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.
"Quero pedir contenção aos irmãos muçulmanos, quer aos que não cumpriram as ordens das autoridades, quer aos rezaram hoje. Não podia perder esta oportunidade para apelar às autoridades que aceitem separar águas, porque não podem impor dias da reza", afirmou o líder político sem nunca mencionar o nome do Presidente guineense, que está a ser acusado por vários setores de querer implementar a ditadura na Guiné-Bissau e de não respeitar a separação de poderes com constantes intervenções na governação.
Presidente está em todo lado de governação
O Presidente da República é apontado como um omnipresente na governação, dirigindo sempre as reuniões do Conselho de Ministros. Umaro Sissoco não esconde a sua intenção de mudar o regime político, de semipresidencialismo para o presidencialismo.
Braima Camará já admitiu publicamente algum mal-estar com Sissoco Embaló devido à forma como tem conduzido os destinos da Guiné-Bissau. Sissoco é o seu terceiro coordenador no MADEM-G15, partido que suportou a sua candidatura presidencial. O partido até já apresentou ao Chefe de Estado, por escrito, a sua insatisfação com a sua decisão unilateral de reduzir pastas ministeriais ao MADEM no Governo, sem concertação ou um aviso prévio. A atribuição dos departamentos governamentais foi previamente acordada entre os partidos signatários do pacto de incidência parlamentar, que permitiu a formação de uma nova maioria no Parlamento. A maioria que tirou o PAIGC da governação e assumiu o poder com um Governo de coligação chefiado por Nuno Gomes Nabiam.
"O facto de teres a tua opção política diferente da minha, não significa que tenho de te eliminar. Devemos saber conviver nas convergências de opiniões e as autoridades devem respeitar as regras. Lutámos para que este regime no poder desse água, luz, saúde, escolas, infraestruturas e acabasse com a fome, mas na base de respeito pelo Estado de Direito", disse Braima Camará à imprensa guineense no final da reza na sua terra natal Geba, localizada na região de Bafatá, leste da Guiné-Bissau.
"Agenda inconfessa"
Camará espera que no próximo ano não venha a acontecer a"vergonha"deste ano devido a imposição do regime a data da reza e diz que alguém quer implementar a sua agenda "inconfessa" na Guiné-Bissau, o que não vai tolerar.
Nos últimos meses, o regime no poder tem proibido e reprimido com violência as manifestações, vários ativistas foram espancados, jornalistas frequentemente agredidos, a estação de rádio foi vandalizada, partidos de oposição com medo de se posicionar devido às ameaças.
O Presidente guineense é acusado de querer implementar a ditadura militar no país ao mesmo tempo que está a forçar o Parlamento a aprovar a sua própria Constituição República, que concentra todos os poderes na figura do Presidente da República.
Na última terça-feira (20.07), o próprio Umaro Sissoco Embaló assumiu-se como um militar no poder para pôr ordem na Guiné-Bissau e admite ter seguido os passos de Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil, um ex-militar reformado. Defende que os militares são melhores do que os políticos para acabar com a instabilidade política no país.
"Não farei parte de nenhum regime que não respeite as regras. É preciso aceitar a democracia, é preciso respeitar a liberdade de expressão, de imprensa e os guineenses devem sentir-se livres na Guiné-Bissau, por isso, que lutei para este processo", concluiu Braima Camará, que disse ter esgotado todas formas de resolver diferenças em privado, mas sem sucesso. E avisa que não tem medo de ninguém.