Marcha em Angola no Dia Mundial de Luta Contra a SIDA
1 de dezembro de 2018Centenas de pessoas marcharam este sábado (01.12) em Luanda, a capital de Angola, contra o VIH e a SIDA, na ocasião do Dia Mundial de Luta contra a SIDA. A marcha partiu do Estádio Cidadela Desportiva e terminou na Praça da Independência onde foram lidas breves mensagens. Muitos curiosos se aproximavam do cordão humano que desfilava nas várias artérias da capital angolana.
A jovem Fátima Veríssimo carregava um objeto de madeira em formato de pénis coberto com um preservativo. "Estou a tentar mostrar às meninas, porque elas dizem que quando fazem sexo oral usando preservativo o lubrificante faz mal. Estou a mostrar a elas que lubrificante não faz mal. Se não faz mal na vagina também não faz mal na boca. E muitas delas estão a dizer: 'muito bem, eu não sabia. Então, passarei a usar'", explica.
Fátima Veríssimo entende que é preciso combater os preconceitos não só sobre o VIH e SIDA, como também em relação à sexualidade. "Ainda há muitos preconceitos ao se falar sobre sexualidade. Aí atrás há uma senhora que me viu com esse pénis de madeira e ficou assustada. Ela chamou-me e disse: 'menina, você não tem vergonha'. Isso mostra que falta muita sensibilização", contou.
Benedito Umbassanjo é responsável da Associação Sole O Mwenho, uma frase da língua tradicional umbundo que significa "amo a vida". A organização trabalha em diferentes unidades sanitárias sensibilizando as pessoas sobre a importância de testagem voluntária e de se lutar contra a discriminação. Benedito Umbassanjo diz que a situação da doença em Angola ainda é muito preocupante.
"Ainda há muitos casos por notificar. Mas o que mais me preocupa é o acesso aos antirretrovirais e outras medidas de tratamento nas zonas mais recônditas desta Angola profunda. Imagine, quem vai la no Kuvulai, no Kuangari, quem leva lá os antiretrovirais? As vias de acesso no interior de algumas províncias são outra dificuldade e constituem uma das grandes barreiras no combate ao VIH/SIDA", afirma.
Testagem voluntária
No Praça da Independência, onde foi montado um aparato de testagem voluntária, foram lidas algumas mensagens por diferentes organizações públicas e privadas.
"Tem de se denunciar os casos de discriminação. E precisamos fazer o teste de VIH para que possamos conhecer o nosso estado sorológico", apelou Elizabeth Rank Frank, antiga Comandante da Polícia de Luanda e presidente da Rede da Mulher Polícia.
Já a diretora-adjunta do UNICEF, Patrícia de Sousa, afirmou que "o programa será expandido" para beneficiar mais pessoas. Também "é preciso fazer o teste", diz.
Recentemente, surgiu na sociedade angolana a notícia sobre a contaminação de uma criança de sete anos depois de uma transfusão de sangue numa unidade pediátrico de Luanda. O assunto continua a gerar polémica, uma vez que revela a falta de controlo nos hospitais do país.
"Penso que todos nós enquanto atores da luta contra o VIH e SIDA devíamos dar a mão à palmatória quanto a este caso. Eu penso que se eu conhecer a minha condição sorológica estarei consciente de que não vou doar o meu sangue infectado, portanto, começa por ali. É uma questão de consciência", afirmou Benedito Umbassanjo.
O responsável pela Associação Sole O Mwenho, também é da opinião que "é preciso criar-se condições técnicas e materiais nas unidade sanitárias de modo a facilitar a testagem e a checagem de todo material, não só o sangue, mas também outros meios colhidos nas unidades. Portanto, isso ainda nos tem faltado. Precisamos melhorar a qualidade do atendimento sanitário", sublinha.
A marcha deste sábado foi organizado pela Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (ANASO) e contou com a participação de várias associações que lutam contra VIH e SIDA. Em Angola, estima-se que mais de 300 mil pessoas vivem com VIH/SIDA e, diariamente, são diagnosticados mais de dez novos casos.