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HistóriaGuiné-Bissau

Marcha por Cabral em Lisboa reivindica reparação histórica

Lusa
19 de setembro de 2024

A primeira marcha por Amílcar Cabral em Portugal acontece neste sábado, em Lisboa, para celebrar o seu centenário e reivindicar a inclusão do líder africano nos manuais escolares.

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Primeira marcha por Cabral em Lisboa exige reparação históricaFoto: casacomum.org/Documentos Amílcar Cabral

A primeira marcha por Amílcar Cabral em Portugal vai percorrer sábado a Avenida da Liberdade, em Lisboa, assinalando o seu centenário e o início da luta pela inscrição do líder africano na história nacional, a partir dos manuais escolares.

O evento é organizado por Movimentos Negros em Portugal e inspirado em iniciativas semelhantes que existem, por exemplo, em Cabo Verde, país onde Amílcar Cabral viveu, disse à Lusa Apolo de Carvalho, membro das Conferências Pan-africanas de Lisboa e um dos promotores da marcha.

"É uma marcha para celebrar o centenário de Amílcar Cabral, o seu legado histórico, o seu pensamento, aqui em Portugal", afirmou.

Para este militante, apesar de Cabral estar a ser evocado cada vez mais, ainda não havia nenhum momento de união que juntasse todas essas lutas, todas essas pessoas, movimentos e eventos diversos, embora a unidade seja precisamente "a palavra-chave quando se pensa em Cabral".

"Porque não, inspirados no que se tem feito em Cabo Verde, trazer aqui para Portugal - onde Cabral ainda não tem uma estátua e o seu nome nem sequer está referido como um dos contribuidores do 25 Abril nos manuais escolares -, para a Avenida da Liberdade, onde todos os anos participamos com uma faixa (o 25 de Abril nasceu em África), esse desafio de fazer [setembro] o mês de marchas por Cabral?", questionou.

À lupa: A luta pela independência e a Revolução dos Cravos

Reparação histórica

Para Apolo de Carvalho, apesar de existirem em Portugal muitas pessoas que conhecem a história do "pai" da independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, a maior parte desconhece o líder africano e não o reconhece "como uma figura que não pertence apenas aos povos africanos, mas pertence a Portugal".

Nesse sentido, há "um trabalho muito grande para ser feito e isso é reflexo de uma grande lacuna".

Na sua opinião, "não se conhece aquilo que foi as lutas pela independência, os contributos que os africanos deram aqui em Portugal, a própria presença negra e africana em Portugal".

Esse "grande desconhecimento" é "produzido politicamente através dos manuais escolares", disse, considerando que "a própria história africana é muito mal contada ou às vezes nem sequer é contada em Portugal".

A título de exemplo, disse que encontrou em manuais escolares referências a Amílcar Cabral como "terrorista", tal como também chegou a acontecer com Nelson Mandela "em certos momentos".

"Tudo isso agora pode ser reparado. Um dos nossos objetivos com esta marcha é a inscrição de Cabral na história e na memória nacional a partir dos manuais escolares, com a introdução da história correta, ou a versão dos africanos dessa história, e também dos portugueses que lutaram", disse.

"Não podemos construir coisas juntas, no futuro, se não formos lá no passado para rever momentos em que houve essa unidade e Cabral é essa linha condutora, esse agregador do passado", referiu. 

"Contra o fascismo, a xenofobia e o neocolonialismo"

 Apolo Carvalho convida os portugueses a reclamar Cabral como um ancestral: "Este é o nosso ancestral e também pode ser o vosso, se assim quiserem".

A primeira Grandi Marxa Kabral em Portugal -- Unidade I Luta, contra o fascismo, a xenofobia e o neocolonialismo junta vários movimentos que se têm associado ao evento e decorrerá, a partir das 15:00, entre a rotunda do Marquês de Pombal, a Avenida da Liberdade e o Rossio. Será lida a Declaração de Lisboa, que reúne as reivindicações do Movimento Negro, em torno da figura de Amílcar Cabral, e não só.

No mesmo dia, o partido Chega promove, às 15:30, uma manifestação nacional na Alameda, também em Lisboa, contra a "insegurança" e "a imigração descontrolada".

"É preocupante que em Portugal, sobretudo nesta altura dos 50 anos do 25 de Abril, continuemos a ter esses projetos de assassinato de ideias e de vidas de pessoas. As pessoas não estão seguras em Portugal por causa desses avanços da extrema-direita e do fascismo, que não é só em Portugal, é também na Europa", afirmou.

E acrescentou: "A rua não pode ser deixada para este tipo de ideias e de partidos. Temos de disputar a rua. A luta é feita na rua, mas esta marcha não é uma resposta a esse evento do fascismo. Já tinha sido convocada há muito tempo".

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