Milhares protestam contra "ingerência estrangeira" no Mali
23 de setembro de 2021Milhares de pessoas manifestaram-se na capital do Mali esta quarta-feira (22.09), segundo jornalistas da agência AFP, apoiando o Governo militar contra a ingerência estrangeira na região do Sahel.
O protesto acontece quando o coronel Assimi Goita enfrenta pressão internacional crescente para renunciar a um possível acordo com a empresa russa de segurança privada Wagner.
A França tem milhares de militares no Mali e posicionou-se contra a contratação dos quase mil paramilitares da Wagner, segundo informações divulgadas este mês.
A ministra da Defesa da França, Florence Parly, disse que o seu Governo "não poderá coabitar com mercenários". A Alemanha, que também tem militares disse que iria reconsiderar a sua colaboração caso o Mali chegasse a um acordo com a Wagner.
Na quarta-feira, o ministro da Defesa da Estónia, Kalle Laanet, disse à rádio estatal do país que se o Mali chegasse a um acordo com Wagner, o contingente estónio de 100 soldados deixaria o país.
Apoio à Rússia
Segundo a agência de notícias, manifestantes agitaram bandeiras malianas e russas e carregaram cartazes pró-militares. Siriki Kouyate, porta-voz do grupo que organizou o protesto, disse que a intervenção militar francesa no Mali tinha falhado. "Isto não pode continuar", acrescentou ele.
O Mali tem lutado para reprimir uma brutal insurreição jihadista que surgiu pela primeira vez em 2012, mas que desde então se estendeu ao vizinho Burkina Faso e ao Níger.
A França interveio no Mali em 2013 e deu uma reviravolta num avanço jihadista, mas o conflito cresceu apesar da presença de tropas francesas.
Apelo por "melhor leitura"
O envolvimento militar francês levou a protestos periódicos no Mali, e é frequentemente criticado nos meios de comunicação social. O protesto de quarta-feira também surge no meio de crescentes preocupações entre os parceiros do Mali de que o Governo não irá conseguir realizar eleições no início do próximo ano.
A Goita derrubou o presidente Ibrahim Boubacar Keita no ano passado, e encenou um segundo golpe contra um governo interino em maio. Embora ele tenha prometido manter o prazo de fevereiro de 2022 para as eleições fixado pelo governo interino, poucos preparativos foram feitos.
No início deste mês, centenas de pessoas protestaram também em Bamako após a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental com 15 nações ter dito que o prazo eleitoral era "não negociável". Num discurso na terça-feira à noite, Goita apelou aos parceiros internacionais do Mali para adoptarem "uma melhor leitura da situação" no país.