Moçambique: Morte de Simango é novo "beliscão" na democracia
25 de fevereiro de 2021Nos últimos três anosm e segundo analistas ouvidos pela DW África, a democracia em Moçambique foi decapitada pelas mortes do líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, em 2018, e agora do líder do MDM, Movimento Democrático de Moçambique, Daviz Simango.
Os observadores dizem que os dois principais partidos da oposição moçambicana, desde sempre centrados nas figuras dos seus presidentes, não tiveram a oportunidade de desenvolver uma democracia interna.
Para o jornalista e analista Fernando Lima, esta centralização terá consequências negativas, "nomeadamente que possibilitem transições pacíficas quando há problemas de sucessão".
"Isto coloca um problema de difícil resolução para o MDM. Está a ser difícil a transição na RENAMO de Ossufo Momade," afirma.
Fortalecer a oposição
Ainda de acordo com Lima, Moçambique precisa de um MDM e de uma RENAMO fortes para a consolidação da democracia no país.
"Com a partida de Dhlakama e agora de Daviz Simango, a democracia ficou mais pobre e a oposição moçambicana ficou mais pobre. Aventava-se a possibilidade de, em 2024, Daviz Simango poder vir a ser figura de consenso na liderança da oposição. Ora, essa hipótese já não existe mais," vinca.
O analista político Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), considera que nos últimos três anos o país tem estado a perder atores chave para a democratização de Moçambique.
Para lá das mortes de Dhlakama e Simango, o analista lembrou a morte do edil de Nampula, Mahamudo Amurane - assassinado a 4 de outubro de 2017. Segudo Alfazema, tudo isto enfraquece a democracia.
"É um grande golpe para o fortalecimento da nossa democracia, o facto de termos estes atores a perderem a vida numa altura que se esperava mais deles, que estavam a liderar processos importantes - no caso de Dhlakama, a pacificação do país e Daviz Simango que era politicamente muito ativo," pondera.
Equilíbrio necessário
Dércio Alfazema espera uma transição pacífica na liderança do MDM, ao contrário do que aconteceu com a RENAMO. A sucessão do líder histórico Afonso Dhlakama dividiu o partido e acabou por originar a auto-proclamada Junta Militar, liderada por Mariano Nhongo.
"É importante que o processo da sua substituição decorra de forma não conflituosa, para que os respetivos partidos possam estar engajados para mobilizar o eleitorado e continuar a trazer um discurso alternativo forte e relevante e que vai de acordo com os desafios do país," sublinha o politólogo.
Democracia viva
O secretário geral do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Roque Silva, não acredita que a democracia esteja "beliscada” com a morte dos líderes da oposição.
"Não morreu a democracia moçambicana. Perdemos um só líder, razão do nosso sentimento, mas também razão pela convicção de que a democracia sempre continuará," declarou, acrescentando que "quando se perde um dirigente de um partido, certamente que isto preocupa-nos bastante".
Recorde-se que tanto o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama como o presidente do MDM, Daviz Simango, são oriundos da província central de Sofala e morreram vitimas de doenças.