Moçambique: Dois mortos em ataque em Cabo Delgado
21 de dezembro de 2019Segundo testemunhas entrevistadas pela agência de notícias Lusa, o ataque ocorreu às 06h00 horas, na estrada que liga a cidade de Pemba aos distritos do norte da província da província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique.
As vítimas seguiam num autocarro da transportadora NAGI e foram surpreendidas pelos disparos quando passavam a dois quilómetros da aldeia de Chitunda, Posto Administrativo com mesmo nome, tendo o motorista prosseguido a viagem apesar dos tiros, disseram à agência Lusa testemunhas locais.
"O motorista do autocarro não parou no local por isso conseguiu evitar muitos danos", conta uma fonte residente naquele posto administrativo, acrescentando que houve uma segunda viatura atingida no mesmo período naquela estrada, mas sem vítimas, e que também prosseguiu viagem apesar dos disparos.
Ataque estendeu-se à aldeia de Chitunda
Horas depois do ataque na estrada, o mesmo grupo terá seguido para o posto administrativo local, em Chitunda, destruindo as instalações das autoridades administrativas e um centro de saúde, além de vandalizar residências e estabelecimentos comerciais.
Na região de Cabo Delgado, têm-se sucedido ataques de grupos armados desde outubro de 2017, após anos de atritos entre muçulmanos de diferentes origens.
Pelo menos 300 pessoas já morreram em Cabo Delgado, segundo números oficiais e da população, e 60.000 residentes foram afetados, muitos obrigados a deslocar-se para outros locais em busca de segurança, segundo as Nações Unidas.
Os ataques afetam distritos próximos das áreas de projetos de exploração de gás natural e, em ações concertadas com petrolíferas que ali constroem os maiores megaprojetos de gás natural de África, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia, mas os episódios continuam e estão a perturbar as obras na península de Afungi.
Ataques ameaçam negócios na região
O vice-presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique alerta para as consequências dos ataques em Cabo Delgado, considerando que a violência armada gera a perceção de insegurança para quem quer investir na região.
"Os ataques já têm um certo impacto na indústria porque criam perceção de insegurança e instabilidade", disse Florival Mucave, vice-presidente da CTA com o pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia, em entrevista à Lusa.
Para Florival Mucave, a perceção de instabilidade naquela região tem impactos graves para o ambiente de negócios, na medida em que quem investe quer garantias de segurança. "É muito importante não só que haja estabilidade, mas também que se trabalhe na perceção da estabilidade", frisou, alertando para impacto das mensagens e informações que circulam nas redes sociais e outros canais transmitindo a ideia de "total insegurança e instabilidade".
"É preciso garantir que as pessoas entendam que há estabilidade e ela vai permanecer", frisou Florival Mucave.
Na província de Cabo Delgado, decorrem construções da futura 'cidade do gás', um dos maiores investimentos privados de sempre em África, cujas previsões indicam que pode ascender a 50 mil milhões de dólares (mais de 45 mil milhões de euros). Os trabalhos de consórcio petrolíferos liderados pela Total, Exxon Mobil e Eni movimentam cerca de cinco mil trabalhadores.
Numa ação concertada com petrolíferas, o Governo tem intensificado a resposta militar com apoio logístico da Rússia contra grupos desconhecidos que têm protagonizado ataques deste outubro de 2017 em distritos daquela província, mas a violência continua e está a perturbar as obras na península de Afungi.