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Moçambique: OIM sem meios para apoiar deslocados

Lusa
9 de março de 2024

A Organização Internacional para as Migrações está a apoiar 22.000 das cerca 100.000 pessoas deslocadas na província de Cabo Delgado só em fevereiro devido aos ataques terroristas, mas alertou que está a ficar sem meios.

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Deslocados em Cabo Delgado continuam a aumentar de ano para ano
Deslocados em Cabo Delgado continuam a aumentar de ano para anoFoto: Bernardo Jequete/DW

"Respondendo a esta emergência humanitária, a OIM tem estado na linha da frente, prestando ajuda essencial a mais de 22.000 pessoas recentemente deslocadas", refere uma informação daquela agência, acrescentando que a "abordagem multifacetada" inclui a gestão de locais de deslocamento, a prestação de abrigo, cuidados de saúde, apoio à saúde mental e a coordenação de uma resposta às "necessidades crescentes".

"Este número alarmante representa a segunda maior onda de deslocamentos em Cabo Delgado desde o início do conflito em 2017, sublinhando o aprofundamento da crise humanitária", alerta a instituição, referindo-se aos mais de 112.000 deslocados registados na atual vaga de ataques, desde final de dezembro, dos quais quase 100.000 no último mês.

"Apesar destes esforços", a OIM sublinha que a "magnitude da crise continua a ultrapassar os recursos disponíveis, evidenciando uma lacuna que precisa de ser urgentemente colmatada".

"Perante esta crise angustiante", a chefe da missão da OIM em Moçambique, Laura Tomm-Bonde, garante que a organização "permanece firme" no "compromisso de prestar apoio às pessoas afetadas".

"Os desafios que enfrentamos para satisfazer as necessidades dos deslocados são significativos. Os nossos recursos, incluindo itens essenciais, estão a diminuir rapidamente, ameaçando deixar em risco milhares de pessoas já em situação vulnerável, incluindo mulheres, crianças e idosos", alerta a responsável.

No mais recente boletim semanal daquela agência intergovernamental, que a Lusa noticiou em 05 de março, a OIM contabiliza a deslocação de pessoas provocada pelos ataques ocorridos entre 08 de fevereiro e 03 de março, sobretudo nos distritos de Chiùre e Macomia, respetivamente com 91.239 e 5.719 deslocados naquele período, sobretudo (62%) crianças (61.492).

"Os ataques e o receio de ataques por parte de grupos armados", descreve a OIM, verificou-se sobretudo em Ocua, Mazeze e Chiùre-Velho, no distrito de Chiùre, com os deslocados a fugirem para a vila de Chiùre (28.754) ou para Erati, na vizinha província de Nampula (45.957).

No mesmo boletim, a OIM refere que entre 22 de dezembro de 2023 e 03 de março de 2024, "ataques esporádicos e medo de ataques de grupos armados" em Macomia, Chiure, Mecufi, Mocímboa da Praia e Muidumbe já levaram à fuga de 24.241 famílias, num total de 112.894 pessoas.

Os ataques armados no Norte de Moçambique deixaram um rasto de pânico, havendo várias localidades com um número reduzido de pessoas
Os ataques armados no Norte de Moçambique deixaram um rasto de pânico, havendo várias localidades com um número reduzido de pessoasFoto: Delfim Anacleto/DW

O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou no final de fevereiro a autoria de 27 ataques no mesmo mês, em vilas "cristãs" no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas, além da destruição de 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito.

Esta nova vaga de ataques em direção ao sul de Cabo Delgado, que tem vindo a crescer desde dezembro, após um período de vários meses de relativa acalmia.

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados disse na quinta-feira que só garantiu 5% dos 400 milhões de dólares necessários para responder à crise de deslocados provocados pelos ataques terroristas e desastres naturais no norte de Moçambique.

"Infelizmente, não está bem financiando", admitiu Filippo Grandi, em declarações aos jornalistas em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, após visitar campos de reassentamento de populações deslocadas, em fuga aos últimos ataques terroristas, reforçando o apelo ao apoio internacional.

O líder do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) avançou que os ataques terroristas na província, desde 2017, já provocaram cerca de 1,3 milhões de deslocados e que 780 mil pessoas permanecem fora das aldeias de origem, apesar de 600 mil já terem regressado.

O alto comissário admitiu que conflitos mais mediáticos que ocorrem noutros locais condicionam a canalização de verbas para o plano de apoio a Cabo Delgado, em 2024, que envolve "esforços conjuntos" com outras agências.

"Infelizmente, a situação de Moçambique talvez não seja a mais visível", apontou Grandi.

Reforço da narrativa extremista para conquistar apoio?