Um ano depois, quem matou Mahamudo Amurane?
4 de outubro de 2018Um ano após o assassinato de Mahamudo Amurane, antigo presidente do Conselho Municipal de Nampula, no norte de Moçambique, ainda não se sabe quem foi o autor do crime.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) afirmou, na quarta-feira (03.10), que há, até agora, dez suspeitos do assassinato, incluindo membros seniores do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). No entanto, os suspeitos ainda não foram formalmente acusados e estão em liberdade, segundo a instituição.
A família de Amurane diz que vai continuar a aguardar por esclarecimentos e pela responsabilização criminal dos culpados.
"O sentimento, neste momento, é de indignação", contou à DW África Selemane Amurane, um dos irmãos de Mahamudo Amurane.
"Nós, como família, queremos que o caso seja esclarecido. Existem casos que acontecem num dia e, nos dias seguintes, são logo esclarecidos. Mas este caso, por ser político, não sei porque está a demorar a ser esclarecido", lamentou.
Selemane Amurane diz que a família não descansará até que o caso seja esclarecido, embora reconheça que pode não ser fácil. E promete continuar a colaborar com as autoridades para se apurar a verdade.
Má fé?
Não só é um assassinato sem rosto que preocupa a família, mas também o uso abusivo de imagens do antigo edil para fins propagandísticos. Alguns políticos, sobretudo do Partido Liberal de Desenvolvimento Sustentável (PLDS), têm utilizado fotografias de Mahamudo Amurane na campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 10 de outubro.
Mas Selemane Amurane faz um pedido: "Mahamudo Amurane já está morto. Aquele que tiver o seu partido, por favor, que invoque o nome do seu presidente para fins eleitorais e não o nome de Mahamudo Amurane. Nós como familiares, sentimo-nos ofendidos quando aparece qualquer partido a invocar o nome de Amurane."
No entanto, o PLDS, através do seu líder para o Conselho Autárquico de Nampula, Aly Alberto, defende o uso de imagem e nome de Mahamudo Amurane, como forma de imortalizá-lo.
"Não temos como nos separar da memória do dr. Mahamudo Amurane. Ele foi o líder que fundou este partido. Infelizmente, não teve essa oportunidade de apresentar na primeira pessoa, mas vocês sempre o ouviram dizer que, brevemente, havia de apresentar o seu partido - e ele referia-se, exatamente, ao PLDS", comentou.
Mahamudo Amurane foi assassinado no dia em que Moçambique celebra o dia da assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992, em Roma, que colocou um ponto final à guerra dos 16 anos entre as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e do Governo. O antigo político deixou viúva e dois filhos.