Carros de luxo para deputados moçambicanos
13 de junho de 2017As 17 viaturas de luxo custaram ao Estado o equivalente a cerca de três milhões e quinhentos mil euros. Um montante que gerou uma onda de indignação, tendo em conta que muitos moçambicanos, sobretudo em Maputo, nem sequer podem contar com os autocarros públicos e, por isso, têm de recorrer a carrinhas de caixa aberta.
O dinheiro das viaturas, da marca Mercedes-Benz, devia ter sido usado para outras coisas, dizem vários cidadãos ouvidos pela DW África.
"Não se explica a compra dessas viaturas no atual contexto em que o pais vive...estamos a passar por um dos momentos mais críticos da nossa história em termos de finanças públicas... hospitais sem medicamentos, com pessoas a serem transportadas em condições desumanas e são feitas despesas do género...não se compreende", diz um cidadão enquanto outro também entrevistado pela DW África afirma que "nós que andamos de chapa passamos mal, vivemos muito longe, enquanto eles vivem aqui perto. Andam de bons carros e eu acho que não é bonito.”Mas, para o diretor Nacional do Orçamento, é "legítimo que os membros da Assembleia da República sejam transportados por carros protocolares daquele nível". Rogério Nkomo disse à imprensa que "é isso que acontece com membros de outros órgãos de soberania do Estado".
Viaturas Topo de gama num país em crise
O editor da publicação Media Fax, Fernando Mbanze, refere, no entanto, que a atribuição destas viaturas não se adequa com o cenário de crise que o país atravessa.
"Devemos tentar retardar um pouco até que eventualmente as condições do país estejam preparadas até que os meus direitos sejam efetivamente cumpridos. São 17 Mercedes que custaram muito dinheiro ao erário público, dinheiro esse que podia ser muito bem usado se formos a aplicar o conceito de equidade e justeza.” Por causa da crise, este ano, o Estado moçambicano teve de efetuar muitos cortes nas despesas públicas. Alguns setores da administração do Estado já nem têm material essencial para funcionarem, como papel e tinteiros.
Por isso, segundo o analista Fernando Gonçalves, em vez de o Estado comprar viaturas para os deputados utilizarem, cada um deveria "receber um salário ou um subsídio adequado que o permitisse ir ao banco pedir um empréstimo e comprar um carro ou para ir a um "stand" comprar um carro condizente com o seu estatuto."
Preocupação com o trabalho dos deputados
Segundo o analista, a compra das viaturas não influencia a resolução dos problemas da população.
"Não estou a dizer que a falta de transporte não seja importante. É importante resolver esse problema. O que nós nos devemos preocupar é com a qualidade do trabalho que o deputado faz depois de lhe terem sido atribuídos esses meios.”Ainda assim, o Presidente da República, Filipe Nyusi tem criticado o excesso de despesas na administração pública moçambicana, principalmente na aquisição de viaturas.
"Sempre tem que se adquirir viaturas, para fazer o quê? E essa mentalidade de viatura de casa, viatura de campo, onde se viu isso se nós não temos capacidades? Porquê não se fica sómente com uma única viatura. Temos a mania de pensar que as marcas de viaturas topo de gama é uma grande coisa para mostrar que você é chefe...chefe como?", destacou o Presidente moçambicano.
A DW África contactou alguns deputados da Comissão Permanente da Assembleia da República, que foram beneficiados pela compra dos Mercedes, mas estes não se mostraram disponíveis para falar.