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Moçambique continua sem ver lucros da exploração de areias pesadas

Romeu da Silva (Maputo)28 de novembro de 2013

Devido a benefícios fiscais, a mineradora Kenmare, que explora as areias pesadas no norte do país, em nada contribui para o Estado, segundo o CIP. A organização apela às autoridades para reverem o código fiscal.

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Foto: Petra Aschoff

A mineradora irlandesa Kenmare, que opera no país desde 2007, ainda não gerou receitas consideráveis para o Estado moçambicano. A denúncia é feita pelo Centro de Integridade Pública (CIP), através de um relatório, divulgado esta quinta-feira (28.11), sobre as atividades daquela empresa que opera nas areias pesadas de Moma, em Nampula, no norte do país.

De acordo com o relatório “Mineração sem desenvolvimento: o caso da exploração das areias pesadas de Moma”, a empresa Kenmare beneficia de incentivos fiscais e montou uma estrutura acionista e de organização (com subsidiárias em paraísos fiscais) preparada, de antemão, para a invasão fiscal. Pelo que, apesar da mina ser rentável, gera poucos proveitos para o Estado moçambicano.
Por exemplo, a Kenmare ainda não pagou o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IRPC), embora a mina tenha começado a lucrar em 2011. Por outro lado, “os trabalhadores moçambicanos que trabalham na Kenmare pagam o IRPC, são deduzidos na fonte”, explica o diretor do CIP, Adriano Nuvunga.

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Em Moma encontram-se algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundoFoto: Petra Aschoff

O que significa que “o que em conjunto os cidadãos contribuíram é 2,5 vezes maior do que aquilo que a empresa contribuiu para o Estado moçambicano”, acrescenta. Em contrapartida, Adriano Nuvunga aponta que “por cada dólar de receita entre 2008 e 2011, a Kenmare pagou um cêntimo em impostos ao Governo moçambicano”.

Este é, aliás, um fator inquietante para o desenvolvimento de um setor privado sólido em Moçambique, onde o sistema fiscal parece favorecer estas grandes companhias e prejudicar as pequenas e médias empresas. “Eu penso que isto é problemático porque as pequenas e médias empresas moçambicanas estão a operar aqui com muitas dificuldades, são sufocadas pelas autoridades públicas do país a pagarem impostos”, considera Adriano Nuvunga.

Apertar o cerco às grandes empresas

“As contas feitas pelo CIP indicam que as reservas da Kenmare valem 125 mil milhões de dólares e os preços no mercado internacional das areias de Moma estão neste momento em alta, sublinha Adriano Nuvunga.

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A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânioFoto: Petra Aschoff

Os pagamentos da Kenmare ao Estado, de 2008 a 2011, totalizaram apenas 3,5 milhões de dólares e destes 3,5 milhões de dólares, 90% provêm do imposto sobre a produção”, acrescenta o diretor do CIP.

O relatório do CIP recomenda às autoridades fiscais de Moçambique a garantir que as vendas dentro do grupo Kenmar sejam baseadas no valor real do mercado.

De acordo com o estudo daquela organização, o principal factor para o não pagamento é que a empresa fez um conjunto de investimentos e está em processo de recuperação. No entanto, o Estado moçambicano não fiscaliza pelo que não tem como confrontar as despesas apresentadas pela companhia.

“Tanto quanto nós sabemos, neste momento, o Estado moçambicano não está nem a fazer monitoria ao que as empresas gastam anualmente nem a fazer auditorias àquilo que são as despesas. As empresas, neste momento, não estão a entregar receitas aos moçambicanos, estão antes a guardar consigo e vão entregar daqui a cinco, seis anos. E se não tiverem sido feitas auditorias em tempo útil, já não será possível fazer cinco anos depois”, alerta Adriano Nuvunga, diretor do CIP.

Moçambique continua sem ver lucros da exploração de areias pesadas

O representante do Parlamento moçambicano presente na apresentação do relatório, Casimiro Whate, referiu que o documento permite “ter elementos que podem enriquecer o debate”.

Por outro lado, chamou a atenção para a existência de várias fontes. "Pode ser que as fontes do CIP sejam umas fontes 'queridas' assim como o Governo pode ter outras informações. São estudos e os estudos nunca estão acabados”, afirmou Casimiro Whate.

A mina de Moma, que começou a produzir em 2007, foi um dos primeiros grandes investimentos estrangeiros em Moçambique.

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Os produtos obtidos a partir da exploração da mina de Moma são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano ÍndicoFoto: Petra Aschoff
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