Moçambique diz não à violência
2 de outubro de 2014Para assinalar o Dia Internacional da Não-Violência, que se comemora esta quinta-feira (02.10), o projeto "Espaços Não Violentos", idealizado por um grupo humanista mundial, lançou uma campanha internacional virtual que convida a refletir sobre o tema.
Moçambique também se juntou a esta iniciativa. "As pessoas tiram uma selfie onde põem aquilo que as inspira sobre a paz e a não-violência, algo criativo e individual, e partilham-na no seu Facebook ou no Twitter", explica Djamila Andrade, uma jovem moçambicana que vive na capital francesa, Paris, e que está ligada ao projeto.
Em território moçambicano, as pessoas começaram a aderir à iniciativa nos últimos dias, "em diferentes lugares, com dizeres sobre a não-violência", acrescenta a jovem engenheira de telecomunicações.
A campanha é lançada numa altura em que cresce a violência e os confrontos entre partidos na campanha para as eleições gerais de 15 de outubro em Moçambique. Nos últimos dias registaram-se vários confrontos na província de Gaza, no sul do país, e também em Nampula, no norte.
"A campanha calha num momento em que, infelizmente, a campanha eleitoral tem tomado esta proporção violenta. Mesmo antes já se tinha instado este clima de violência física em Moçambique", lamenta Djamila Andrade.
Por isso, o momento "é bastante oportuno não só para dizer que não queremos esta violência como moçambicanos, mas também manifestar que o povo se pode manifestar de forma não violenta sobre os problemas em Moçambique", argumenta.
"Não à Violência Eleitoral"
"Não à Violência Eleitoral" é o mote para a conferência de imprensa que o Centro de Integridade Pública (CIP), a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH), o Parlamento Juvenil e o Fórum Nacional de Rádios Comunitárias de Moçambique (FORCOM) agendaram para esta quinta-feira.
As organizações aproveitam o Dia Internacional da Não-Violência para uma reflexão nacional sobre a violência que tem manchado a campanha. E querem fazer um alerta.
"As eleições ganham-se nas urnas, onde deve prevalecer a vontade do povo, e não à força da violência. As eleições são um momento de reflexão democrática, de festa da cidadania e de exaltação da liberdade democrática", lembra Salomão Muchanga, presidente do Parlamento Juvenil.
O dirigente do movimento orientado para a participação de jovens moçambicanos na vida política e social do país sublinha ainda que "a violência eleitoral constitui uma ameaça para a construção e consolidação da democracia participativa e inclusiva em Moçambique."
Apesar das "situações de intolerância política, de violência física e abuso de bens públicos" que se tem vivido, Salomão Muchanga acredita que as eleições em Moçambique serão pacíficas.
"Por todo o país, nas províncias, nos distritos, há um sentimento de pertença às eleições que não se revê na violência eleitoral. A nossa mensagem é de serenidade e de compromisso com a não-violência."
Olho do Cidadão atento
Os acontecimentos que se têm registado em Moçambique também são condenados pelo Olho do Cidadão, uma plataforma de bloggers que aposta no conceito "cidadão-jornalista".
O movimento cívico lançou recentemente a campanha "Não à Violência nas Eleições". Através de mensagens escritas apelam aos atores políticos e à sociedade para "um ambiente de paz e tranquilidade antes, durante e depois das eleições".
Dércio Ernesto, um dos membros do movimento, esperava que "o processo fosse mais pacífico, como uma espécie de acompanhamento daquilo que já aconteceu e que foi selado entre o Presidente da República, Armando Gebuza, e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO)", o maior partido da oposição.
"Esperávamos que fosse um momento mais de festa e democrático e não que houvesse focos de violência. Até há espancamentos e danos materiais avultados", lamenta o blogger moçambicano.
Atualização em tempo real sobre eleições
O Olho do Cidadão vai monitorizar e observar as eleições gerais de 15 de outubro através do projecto “Txeka-lá”. Na primeira semana de outubro, estará disponível uma plataforma online onde os cidadãos poderão "reportar tudo de positivo e de negativo" que esteja a acontecer no dia da ida às urnas.
A ideia é “acompanhar o processo e manter os dados em tempo real da observação através de um sistema que é gerido numa base, que se vai constituir até dia 15 de outubro, e com uma equipa de jovens”, explica Dércio Ernesto. A coordenação será feita juntamente com outras associações da sociedade civil, com a polícia, os meios de comunicação social e políticos.
"É uma espécie de situation room, que é uma sala de operações com vários atores que no dia da votação acompanham o processo e mantém informada a sociedade através de actualizações permanentes sobre o que está a acontecer no terreno", revela Dércio Ernesto.
Os observadores da sociedade civil estarão espalhados por vários pontos do país para validar a participação dos cidadãos, para que "tudo o que for publicado no website seja válido", explica o Olho do Cidadão.