RENAMO prepara-se para autárquicas de 2018
29 de novembro de 2017Recentemente a DW África conversou com Ivone Soares, chefe da bancada parlamentar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), aqui em Bona, sobre o processo de paz em Moçambique e sobre a participação do maior partido da oposição nas eleições autárquicas previstas para outubro de 2018.
DW África: Em que passo estão as negociações entre a RENAMO e o Governo?
Ivone Soares (IS): As negociações continuam, o presidente [da RENAMO] Afonso Dhlakama continua o diálogo com o Presidente Filipe Nyusi, o que é extremamente encorajador para o país e mesmo para os investidores que estão interessados em ver Moçambique num ambiente de calmia. Acredito que este diálogo tem estado a ajudar bastante a desanuviar algumas nuances que eram muito negativas no passado, como por exemplo a atuação dos esquadrões da morte que vitimaram muitíssimos membros da RENAMO. O diálogo que está a contecer ao mais alto nível tem estado a viabilizar também a tentativa que as comissões criadas para discutir os assuntos atinentes à descentralização e questões militares para que sejam mais céleres na busca de consensos.
A RENAMO já apresentou as suas propostas em relação à descentralização e assuntos militares. Recentemente também houve uma reação do Governo e os peritos estão a trabalhar na busca do que é comum e que nos possa ajudar a rapidamente termos um acordo que possa ser assinado pelos dois presidentes. Agora, é preciso que haja celeridade, porque nós não podemos continuar a viver numa paz de tréguas. É importante que Moçambique passe a ter uma paz definitiva, que seja efetiva, um processo que nos conduza a um processo de verdadeira reconciliação nacional e isto deve acontecer o mais breve possível, porque senão dá a sensação de que para o Governo [a paz] não é urgente, que se pode levar o tempo que for necessário, trata-se tudo devagarinho. Mas para o povo que realmente está ansioso em ver a solução dos problemas, a solução já devia ter chegado. Portanto, acredito que vamos ter um acordo o mais breve possível.
DW África: Antes das eleições autárquicas?
IS: Eu espero que sim, porque seria o ideal. E espero também que isso venha a significar que os governadores passem a ser eleitos a partir de 2019, que os homens da RENAMO possam fazer parte das Forças de Defesa e Segurança. Recentemente houve mexidas nas Forças de Defesa e Segurança, o Presidente da República exonerou algumas figuras centrais deste órgão e colocou novas figuras. E foi meio triste para muitos que estavam a espera que fosse desta vez que também fossemos ver algo de concreto nesta senda da integração dos homens da RENAMO.
Portanto, gostaríamos que tivesse também nomeado individuos propostos pela RENAMO para estes cargos de chefia e de direção. Mas não vamos dizer que o caldo está entornado, vamos acreditar que é um processo que não acabou e só está a começar e que ira também acontecer a integração tão esperada dos comandos da RENAMO. E isto vai ajudar bastante a termos realmente um exército que não seja visto como sendo da FRELIMO, mas um exército de Moçambique, que haja de acordo com o que estiver legislado na Constituição e nas leis ordinárias que o país for a adotar.
DW África: E o que a RENAMO já está a fazer com vista às eleições autárquicas?
IS: Trabalho dos nossos potenciais candidatos, trabalho de preparação dos nossos manifestos. São 53 autarquias e é preciso garantir que essas autarquias estejam muito bem preparadas para receber a nova liderança que vai ser maioritariamente garantida pela RENAMO, porque estamos a preparar de modo a vencer o maior número de municípios do país.
DW África: E já têm candidatos?
IS: Já estamos a trabalhar nesse processo, começamos com as conferências provinciais para preparar o órgão que fiscaliza a ação do Executivo e do partido ao nível das províncias, que é o conselho provincial. E terminada essa fase esse conselho deve debruçar-se sobre quem tem perfil para ser candidado da RENAMO.