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EducaçãoMoçambique

Moçambique: Novo ano, novo boicote no ensino secundário

3 de janeiro de 2025

Professores voltam a ameaçar não realizar exames especiais do ensino secundário, acusando o Governo de "mentiras" e "romantismo" para "fugir" ao pagamento de horas extraordinárias.

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Professores em protesto em Inhambane
No início de dezembro, professores em Inhambane (na foto) e noutros pontos do país recusaram-se a vigiar os exames finais do ensino secundárioFoto: Luciano da Conceição/DW

Em Moçambique, os professores ameaçam boicotar mais uma vez os exames especiais do ensino secundário. A avaliação seria uma solução para os exames normais de fim de ano, boicotados pelos docentes por falta de pagamento de horas extraordinárias.

A Associação Nacional dos Professores (ANAPRO) diz que "o Governo mentiu mais uma vez". Em entrevista à DW África, Arnaut Naharipo, secretário provincial da ANAPRO em Nampula, acusa as autoridades de usarem o "romantismo" para "amaciar" as mentes dos docentes. Mas a tática não os impressiona e os professores ameaçam fazer boicote no novo ano letivo, se as suas exigências não forem satisfeitas.

DW África: O que os leva novamente a querer boicotar os exames?

Arnaut Naharipo (AN): É uma questão muito simples: o Governo não é sério para com a nossa classe. Olham para nós como se fôssemos uma classe medíocre, mas, no final das contas, é em nós que eles confiam. Vamos boicotar mais uma vezo processo de realização de exames por conta do incumprimento e falta de seriedade do Governo. O Governo mentiu mais uma vez. O ministro apareceu a dizer que até 20 de dezembro iam liquidar todas as dívidas que o Estado tem com todos os funcionários públicos, incluindo as horas extra da educação e da saúde, mas não vimos nada. Era uma forma de tentar amainar os nossos ânimos. O Governo usa o romantismo para tentar amaciar as mentes dos docentes.

Arnaut Naharipo, secretário provincial da ANAPRO em Nampula
"O Governo mentiu mais uma vez", diz Arnaut NaharipoFoto: Privat

DW África: Se da primeira vez o boicote não funcionou, será desta que vai surtir efeito?

AN: Da primeira vez surtiu efeito, sim. Por exemplo, na província de Maputo, nas escolas em que houve boicote, pagaram [em mais de] uma centena de escolas. Aconteceu também na província de Gaza. Talvez o Governo pense assim: 'quanto mais vocês choram, mais abro a mão'. Na província de Nampula, no Instituto Politécnico de Nacuxa, quando emitimos um documento e colocámos lá, eles pagaram todo o ano de 2023. É preciso gritar para sermos ouvidos.

DW África: As promessas inesperadas do Governo de pagamentos aos professores incluíam o pagamento de horas extras?

AN: Exatamente. As horas extra de 2022, 2023 e 2024. Se não pagarem todas essas dívidas que têm connosco, nós vamos boicotar. Não vamos fazer nenhumas horas no ano 2025, porque vimos que o Governo não tem o espírito de erguer infraestruturas, mais salas para abrigar mais alunos. Ou seja, recorrem mais a nós para cobrirmos mais salas, porque não querem contratar mais docentes. É mais uma das lutas que o Governo vai enfrentar este ano, porque estamos frustrados.

DW África: Um boicote aos exames pode significar um prejuízo grande ao Estado e aos alunos...

AN: Fora todos os danos que já pressentimos. De todo o tipo de ensino que existe em Moçambique, aquele que mais preocupa o Governo é o ensino geral e a 12ª classe é a classe pré-universitária, em que o aluno pode ingressar em vários patamares académicos. Olhando para os alunos, nós lamentamos. Alguns tencionam ingressar no ensino superior e isto pode impedir o seu ingresso. Alguns já perderam as suas inscrições em algumas universidades, não sabem se vão conseguir ter o nível médio este ano. O Governo também vai sair a perder.

Projeto resgata jovens das ruas de Maputo para a escola

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África