Moçambique: "Prevejo um massacre no dia 15 de janeiro"
2 de janeiro de 2025Moçambique começa o Ano Novo com os velhos problemas e mal resolvidos, diz à DW a defensora dos Direitos Humanos Mirna Chitsungo. 2025 traz muitas incertezas sobre o que vai acontecer em Moçambique.
O Conselho Constitucional marcou hoje o dia 15 de janeiro como data para Daniel Chapo tomar posse como novo Presidente da República. Venâncio Mondlane, candidato presidencial que contesta os resultados oficias das eleições gerais, também já tinha fixado a mesma data para se autoproclamar oficialmente Presidente moçambicano. São os indicadores para um ano atípico e difícil para Moçambique, diz ativista dos direitos humanos.
DW África: Como é que Moçambique irá reagir à tomada de posse do novo PR?
Mirna Chitsungo (MC): Isto traz uma incerteza relativamente a 15 de janeiro, o dia da tomada de posse do novo PR de Moçambique. Daniel Chapo vai tomar posse, mas ao mesmo tempo, o candidato que é obedecido pelo povo, afirma também que irá tomar posse no mesmo dia. Prevejo um dia muito sangrento. O povo sairá à rua para se manifestar, a PRM estará na rua a disparar, como tem acontecido nos últimos tempos. Prevejo um massacre no dia 15 de janeiro.
DW África: Acha que 2025 poderá ser muito dificil para o bolso dos moçambicanos?
MC: Já está a ser. Neste momento, a economia está completamente paralisada, com o fecho das fronteiras, dos portos e o impedimento de circulação livre de bens e pessoas. Os produtos de primeira necessidade estão a valores exurbitantes. O povo vai arcar com as consequências dos seus próprios atos. E o povo está consciente disso.
DW África: Como é que Moçambique poderia sair desta situação? Quem poderia mediar e que tipo de mediação seria mais viável para o país?
MC: A saída possível resta no Estado moçambicano, no partido FRELIMO e extratos da sociedade civil como académicos ou líderes religiosos, para tentarem convencer Venâncio Mondlane para um diálogo para que se chegue a um ponto de equilibrio e que o país não continue em chamas.
Mas eu duvido também que Mondlane aceite esta negociação, porque a sua perspetiva é de obter justiça eleitoral. E isso não se negoceia num escritório. A justiça eleitoral faz-se nas urnas, com a transparência do processo eleitoral. O que vai acontecer é que Mondlane vai querer governar - já está a governar de certa forma -, e Chapo também vai querer governar. Estamos num ano atípico, porque não sabemos o que irá acontecer.
DW África: Moçambique corre o risco de ter duas pessoas a dirigir o país em 2025, Chapo e Mondlane...
MC: Em 2024 já começou a acontecer. Quando o povo desobecede o Governo formal e obedece quem reclama por justiça eleitoral... Neste momento, quem comanda o país é Venâncio Mondlane. É só ele mandar parar de fazer alguma coisa e as pessoas param. Se mandar parar de pagar impostos ou pagar portagens, as pessoas param.
Governar é mandar e as pessoas fazerem. Quando estamos numa situação em que o Governo formal já não é ouvido, vamos ter dois povos: um que obedece à FRELIMO e outro que obedece a Mondlane. Isto até que se encontre um ponto de equilibrio no diálogo entre a FRELIMO, a sociedade civil e o próprio Venâncio Mondlane.