RENAMO exige explicações da polícia sobre rapto de dirigente
16 de dezembro de 2020A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição em Moçambique, quer mais explicações da polícia sobre o alegado envolvimento de agentes de segurança no rapto de Sofrimento Matequenha, antigo deputado e delegado provincial da RENAMO na província de Manica, centro do país.
"Esperamos que a polícia diga alguma coisa e que não se limite a negar [o envolvimento], porque isso não é suficiente", disse Eduardo Leite, porta-voz da RENAMO naquela província, numa conferência de imprensa esta terça-feira (15.12).
Sofrimento Matequenha foi raptado na sua residência no início da noite de domingo (13.12), segundo denunciou a família. Um grupo armado equipado com farda policial invadiu a casa da vítima no bairro Nhamaonha, subúrbio de Chimoio, capital provincial de Manica, tendo-o levado numa viatura preta, com vidros fumados, contou Lurdes Inácio, esposa do político.
Especulações
O porta-voz da RENAMO em Manica entende que o rapto pode estar ligado a suspeitas de que Matequenha esteja ligado à autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, o grupo dissidente que têm atacado aldeias e transportes civis no centro do país. Os ataques deixaram pelo menos 30 mortos desde agosto de 2019.
Face ao testemunho da esposa da vítima, que assistiu ao sequestro, o dirigente diz mesmo que "é a polícia" que tem de provar que "não é autora do rapto". "Quem acusa tem direito de acusar, mas quem diz 'não' também tem o dever de provar e isso ainda não aconteceu. O que aconteceu foi a polícia negar o rapto e dizer que a esposa deve ir apresentar queixa", sublinhou Eduardo Leite.
Sem esclarecer se reconheceu algum dos rostos dos raptores, a esposa descreveu-os como polícias pelos fardamentos, botas, armas e pela forma como manipularam as armas.
Silva Matequenha, o irmão do político, disse ter procurado informações sobre o paradeiro do antigo deputado e delegado juntos das subunidades da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Chimoio, mas sem sucesso.
Polícia nega participação
A polícia em Manica negou a participação de agentes da corporação no rapto do político, sustentando que a corporação existe para "garantir a ordem e tranquilidade pública, independentemente da sua filiação política", segundo Mário Arnaça, porta-voz da instituição.
Eduardo Leite nega que o rapto esteja relacionado com fricções internas que têm afetado a RENAMO, insistindo que a formação política tem denunciado desde há vários anos raptos e assassinatos de membros e dirigentes, sem o desfecho dos casos.
"Nós estamos sempre preocupados. Não sabemos quem vai ser raptado amanhã, quem vai ser raptado depois e isso nos preocupa-nos", frisou.
"Não tivemos nenhum caso de rapto em que a pessoa voltasse ao nosso convívio", disse Eduardo Leite, que apelou aos raptores a pararem com a agressão para o partido se concentrar no trabalho político.