Experiência moçambicana de combate à SIDA
5 de março de 2015A doutora Noorjehan Majid, responsável-clínica do programa DREAM de combate à SIDA da Comunidade Santo Egídio em Moçambique, está na Alemanha para relatar o susesso do programa em seu país.
De lá traz histórias vitoriosas, como a do casal seropositivo que sonhava em ter filhos.
"Ela ficou grávida e tem hoje uma bebê de 18 meses. Fomos fazendo o seguimento e esta criança é negativa," conta.
Este é um exemplo claro de um dos grandes sucessos atingidos pelo DREAM em Moçambique. A prevenção à transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho, durante a gravidez, diz a médica.
"Toda grávida seropositiva que faz um tratamento correto pode ter uma criança seronegativa. Os nossos resultados com as crianças seronegativas são de 99% e temos cerca de 28.000 crianças nascidas, desde 2002 no programa DREAM, que são seronegativas," comemora.
Metas e desafios
O programa DREAM está presente em 10 países africanos. Em Moçambique, atualmente cerca de 33.000 pacientes seropositivos são atendidos nos 11 centros de tratamento anti-retroviral espalhados pelo país.
Segundo dados do Inquérito Nacional de Prevalência, Riscos comportamentais e Informação sobre o HIV e a Sida em Moçambique (INSIDA), em 2009 a prevalência nacional da SIDA era de 11,5% - um avanço em relação ao dado anterior de 2007: 16% de prevalência. Apesar de números otimistas, a luta contra o HIV/SIDA em Moçambique ainda enfrenta desafios. Um deles deles seria a falta de estruturas e pessoal qualificado.
"Temos uma meta que tem que ser alcançada. Estamos a andar para a frente em relação àquela meta. Há falta de pessoal. Estamos a tentar capacitar o pessoal, estamos a tentar arranjar as infraestruturas, as coisas que faltam, para poder-se atingir essas metas," detalha a responsável.
Também a falta de aceitação pelos próprios doentes estaria na lista das dificuldades que ainda precisam ser ultrapassadas para se alcançar a meta de oferta de tratamento a todos os infetados, além de zero novas infeções.
"Quer dizer, a SIDA pode ser uma doença do pobre, de alguém que está no mau caminho, pode ser uma doença de alguém que está acamado. Eu que sou professor, médico, estudante, não acontece comigo. Eu não tenho nada disso. É uma invenção. Então, é uma luta nesta parte de educação," explica.
A responsável do DREAM revela, no entanto, que com o passar dos anos, o estigma e o medo em relação à SIDA teriam diminuído no país.
"As pessoas têm consciência de que se eu for seropositivo, posso ter um tratamento. Não só eu, a minha vizinha, o meu primo e o meu irmão," exemplifica.
"Isso estimula e ajuda, porque o que as pessoas pensam é que a SIDA mata e eles vêm que não. Essas pessoas quando são tratadas podem trabalhar, estudar e levar uma vida normal. Então, porque não [fazer o tratamento]?"
Tratamento e prevenção
Para Dieter Wenderlein, chefe do departamento de Ajuda ao Desenvolvimento da Comunidade Santo Egídio na Alemanha, os métodos tradicionais de prevenção são importantes. Mas a terapia seria o principal fator do controle da transmissão.
"Foi provado por alguns estudos que um paciente que toma medicamentos contra a SIDA, praticamente não pode infetar outra pessoa. Isso vemos também no nosso programa DREAM. Isso significa que a terapia é o tipo de prevenção mais efetivo, eficaz e melhor," defende.
Wenderlein acompanha a responsável do programa DREAM moçambicano em encontros com parceiros e doadores em Munique, Berlim e Düsseldorf. Quer reforçar a importância da continuidade do combate ao HIV/SIDA.