Nelson Mandela enterrado na sua aldeia natal Qunu
15 de dezembro de 2013Neste domingo (15.12.), Mandela foi enterrado acompanhado unicamente pela família, amigos íntimos e alguns convidados, em Qunu, onde sempre desejou ser sepultado.
O enterro
Três helicópteros militares e aviões de combate sobrevoaram o local durante o enterro e 21 salvas de canhão foram disparadas em honra do herói que combateu o regime racista do 'apartheid' na África do Sul.
Apenas cerca de 450 pessoas assistiram ao enterro na propriedade da família em Qunu, povíncia do Cabo Oriental, no sul da África do Sul.
A cerimónia foi liderada por chefes do clã abaThembu, um ramo do povo Xhosa. Os anciões do clã velaram o corpo durante a noite. De acordo com a tradição, foram eles que ficaram encarregues de comunicar com os antepassados em rituais iniciados no sábado, a fim de apaziguar o espírito do falecido. Estava também previsto o sacrifício de um boi antes de o funeral começar oficialmente, para que o espírito possa descansar em paz.
Amigos de Mandela e outras personalidades estrangeiras como os antigos ministros franceses Lionel Jospin e Alain Juppé, o empresário inglês Richard Branson e o defensor dos direitos cívicos norte-americano Jesse Jackson assistiram à cerimónia.
O bispo metodista Don Dabula, capelão da família, deu a bênção aos restos mortais do ex-Presidente. "Mandela sacrificou a sua vida pela justiça e pela liberdade. Mostrou ao mundo como praticar perdão e inclusão, compaixão e integridade", lembrou o bispo.
O funeral de Estado
Diretamente antes do enterro em Qunu, teve lugar na mesma localidade um funeral de Estado de Nelson Mandela. O funeral, que durou pouco mais de duas horas, foi um ato emotivo celebrado no interior de uma grande tenda instalada na quinta de Mandela.
"Este homem, que será sepultado aqui, é o maior filho da África do Sul", foi a despedida de Cyril Ramaphosa, vice-presidente do partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano – CNA (em inglês: African National Congress – ANC).
Ao contrário do enterro, em que participaram poucas centenas de pessoas, no funeral de Estado estiveram presentes cerca de 4.500 pessoas, incluindo representantes de diferentes países. Os jornalistas – aproximadamente 3.000 estiveram no local – foram mantidos afastados durante toda a cerimónia.
Discurso de Zuma
Durante o elogio fúnebre ao herói da luta contra o 'apartheid' em Qunu, Jacob Zuma, o Presidente sul-africano, pediu aos seus compatriotas para "fazer viver a herança" de Nelson Mandela para não o dececionar.
"O teu longo caminho para a liberdade foi concluído, no sentido físico do termo. Mas a nossa própria viagem continua. Nós devemos continuar a construir a sociedade para a qual tu trabalhaste", declarou o chefe de Estado, dirigindo-se a Mandela durante a cerimónia fúnebre. "A África do Sul vai continuar a crescer, porque nós não te podemos dececionar", disse Zuma.
"Nós prometemos hoje continuar a promover a tolerância e uma sociedade multirracial no nosso país e construir uma África do Sul que pertença verdadeiramente a todos", afirmou Zuma.
Morte após doença prolongada
Até à transferência dos restos mortais de Mandela para Qunu, no sábado, o seu corpo esteve em câmara ardente, durante três dias, na capital do país, Pretória. Mais de 100.000 pessoas despediram-se pessoalmente dele no Union Building, o mesmo edifício onde "Madiba", como Mandela também é conhecido, prestou o juramento como Presidente no ano de 1994.
Nelson Mandela entrou na história por ter negociado com o poder branco a partir de finais dos anos 1980 – mesmo antes de ser libertado – o fim do regime racista do 'apartheid'.
Mandela conseguiu evitar uma guerra civil racial, que muitos previam na época, provando firmeza e adotando uma atitude reconciliadora e aconselhando o perdão.
Mandela foi eleito o primeiro Presidente negro da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais de 1994. O Prémio Nobel da Paz faleceu aos 95 anos no passado dia 5 de dezembro, na sua casa em Joanesburgo, rodeado pela família, depois de uma longa doença.