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África do Sul se despede de Nelson Mandela

Claus Stäcker14 de dezembro de 2013

Desde 5 de dezembro, a África do Sul está de luto. Nelson Mandela, o "Madiba", como também é conhecido entre os sul-africanos, morreu aos 95 anos de idade. Recordamos os momentos mais importantes da vida de Mandela.

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Trauer um Nelson Mandela
Foto: Reuters

Nelson Mandela é considerado o pai de uma nação, que pertence a todos. E são muitos os que querem ainda resplandescer sob o seu brilho. Tal como o seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), que desde a retirada política de Mandela em 1999, tem medo de perder a sua primazia na política sul-africana.

Mandela, já foi durante a sua vida uma figura simbólica, uma lenda. Mandela superou-os a todos: tanto o Prémio Nobel da Paz Albert Luthuli como o bispo Desmond Tutu, o companheiro Walter Sisulu e Oliver Tambo. Alguns juram ter sentido uma energia mágica quando apertaram a mão a Nelson Mandela. O próprio Mandela reagiu ao culto de personalidade com alguma ironia, sobretudo quando o seu declínio físico começou a ser evidente. “Não se esqueçam que já tenho mais de 100 anos de idade”, brincou nessa altura.

Um cavalheiro sedutor

Das Haus von Nelson Mandela
A casa onde Nelson Mandela viveu em QunuFoto: Reuters

Mandela, um cavalheiro nobre, um sedutor. Quem mais conseguiria fazer corar jovens repórteres? Para Mandela, esse sempre foi um exercício fácil. “Aproxime-se um pouco mais, por favor”, disse numa conferência de imprensa a uma jovem jornalista de televisão que tinha acabado de lhe fazer uma pergunta ousada. “Prefiro que se aproximem mulheres jovens”, confessou Mandela, sorrindo abertamente e fazendo a jovem jornalista corar de embaraço.

Os que o conhecem melhor sorriem quando se fala no tema “Mandela e as mulheres.” Na agenda do líder histórico sempre houve espaço para modelos, cantoras pop e estrelas de Hollywood. Teve várias namoradas e escapou a um casamento arranjado na década de 1940. Na década de 50, o primeiro casamento, voluntário, com Evelyn Mase Ntoko, fracassou porque ela não ficou feliz com o tempo que Mandela investiu na sua luta política.

Em 1948, o Partido Nacional (NP) dos sul-africanos brancos de origem holandesa e alemã, os chamados “Boers”, sobe ao poder e institui a segregação das raças: O apartheid torna-se doutrina de Estado.

Em 1952, com o seu amigo Oliver Tambo, abre o primeiro escritório de advogados negros na África do Sul. E apenas quatro anos mais tarde é acusado em tribunal por traição ao Estado. Nessa época, em 1956, sai em liberdade. Ao seu lado está já a bela assistente social Nomzamo Winnifred Madikizela. Winnie também é uma lutadora da resistência e não faz perguntas. As suas duas filhas, Zenani e Zindzi, nascem nessa altura.

Nelson Mandelas Heimatregion Qunu
Museu Nelson Mandela, em Qunu, em homenagem ao pai da nação arco-írisFoto: DW/L.Schadomsky

Disposto a morrer por um ideal

Em 1961, Mandela constrói a ala militar do ANC, Umkhonto we Sizwe, em português: a “lança da nação”. Mergulha então na clandestinidade e tem de se esconder, entre outros lugares na quinta Lillisleaf, nos arredores de Joanesburgo.

Nelson, o inimigo público, transforma-se em David, o jardineiro. Em 1962, é preso e inicialmente condenado a cinco anos de prisão. Tem 44 anos e só será libertado quando tiver 71 anos. No famoso julgamento de Rivonia, alguns anos mais tarde, é acusado de 150 atos de sabotagem. Mandela assume o papel de advogado e defende-se a si mesmo.

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“Lutei contra a supremacia branca. E lutei contra a supremacia negra. Persegui sempre o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todos pudessem viver em harmonia e tivessem as mesmas oportunidades. Este foi sempre o ideal pelo qual eu quis viver. E é um ideal pelo qual eu estou disposto a morrer”, assegura Mandela num discurso que correu mundo e que se transformou em legado de uma geração.

No entanto, o tribunal permanece irredutível. No dia 11 de junho de 1964, o juiz Quartus de Wet anuncia que “a sentença para todos os acusados será prisão perpétua.”

Mandela passa 18 anos na ilha-prisão de Robben Island, em frente à costa da Cidade do Cabo, onde os holandeses tinham já tinha mantido escravos obstinados. Apesar de publicamente se ter deixado de ver fotografias suas, Mandela torna-se o prisioneiro mais famoso do mundo.

Vinte e sete anos de reclusão

Propositadamente, o ANC usa Winnie Mandela e, posteriormente, as suas duas filhas Zenani e Zindzi para uma campanha internacional de relações públicas.

Em 1982, Mandela é transferido de Robben Isand para a prisão de Pollsmoor num subúrbio da Cidade do Cabo. E em 1988 para a prisão de Victor Verster perto da cidade vinícola de Paarl. Nesta última prisão teve direito a um certo luxo, com casa própria com piscina e cozinha.

Só em 1990, quando Mandela tinha 71 anos, Frederik Willem de Klerk, o último presidente branco da África do Sul, cede à pressão global. “Gostaria de frisar que o governo tomou a decisão irrevogável de libertar Nelson Mandela, incondicionalmente. Estou empenhado em resolver este assunto sem mais demora”, anunciava então.

Alguns dias depois, um estranho alto e magro sai da prisão de mãos dadas com Winnie. Durante 27 anos, o público não viu Mandela. Nesse mesmo dia, repete o legado do julgamento de Rivonia: “Lutei contra a supremacia branca. E lutei contra a supremacia negra. Persegui sempre o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todos pudessem viver em harmonia e tivessem as mesmas oportunidades.”

Gefängnis auf Robben Island Südafrika
Ilha-prisão de Robben Island, onde Mandela passou 18 anosFoto: BY-SA/Rüdiger Wölk

O desejado regresso a casa

Mandela coloca o seu destino nas mãos do povo e anseia sobretudo por uma casa. A sua filha Zindzi Mandela lembra-se bem dessa altura. “A minha mãe fazia sempre um prato com várias camadas de massa e carne picada. E o meu pai via muito da personalidade dela neste prato, que é bastante picante. As várias camadas eram como a personalidade dela, temperamental”, recorda. “E ele costumava ameaçá-la: Se quando eu voltar a casa esta comida não estiver em cima da mesa, divorcio-me”, acrescenta.

Após grande hesitação, Mandela acaba por divorciar-se em 1996. O passado de Winnie Mandela, as suas atividades criminosas e, possivelmente, os seus casos amorosos parecem ter destroçado o seu coração. Pede publicamente que compreendam a sua dor, na conferência de imprensa mais curta da sua vida.

Esta não é a sua única derrota privada: Os seus dois filhos morreram, um deles com apenas 22 anos de idade, num acidente de carro. O mais velho, Magkato, um advogado solitário, mas bem-sucedido, já tinha morrido em 2005 de SIDA. Outra filha morreu ainda durante a infância. A segunda filha do seu primeiro casamento, Maki, queixou-se uma vez da falta de atenção por parte do pai e disse que Mandela era um pai para todos, mas não para ela.

Südafrika erhält Fußball-WM 2010 Nelson Mandela
Acolher o Mundial de Futebol de 2010 na sua nação arco-íris foi o mais recente triunfo de MandelaFoto: AP
Nelson Mandela mit Frau und Ex-Frau
Nelson Mandela com a esposa, Graça Machel (à esquerda), e a ex-mulher Winnie Madikizela-Mandela (à direita)Foto: picture-alliance/AP

Felicidade tardia

Em 1998, quando cumpre 80 anos, volta a casar, desta vez com a viúva do Presidente moçambicano Samora Machel. Encontra então uma felicidade tardia, como disse Graça Machel numa entrevista à Al Jazeera. “Ele sentia-se muito só”, lembra. “Porque depois de 27 anos de prisão, ele já não desejava unicamente o brilho político, mas um lar, uma vida familiar. E foi isso que lhe dei”, conta Graça Machel.

Acolher o Mundial de Futebol de 2010 na sua nação arco-íris foi o seu último triunfo. “Sinto-me como um jovem de 50 anos!”, brincou Mandela após a decisão em Zurique. E a sua missão histórica foi cumprida. Em 2010, África celebra a realização do primeiro Campeonato Mundial de Futebol no continente africano. As imagens de Mandela com o seu chapéu de pele no Estádio Soccer City continuarão na memória do mundo.

Nelson Mandela WM Finale WM Weltmeisterschaft Fußball Flash-Galerie
Foto: AP