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"Ninguém deve ser Presidente para a vida"

Maria João Pinto28 de julho de 2015

O combate ao terrorismo e à corrupção foram temas centrais no discurso inédito do Presidente norte-americano na União Africana. Obama deixou outros "recados" aos líderes africanos quanto ao desejo de poder "eterno".

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Foto: Reuters/J. Ernst

O chefe de Estado norte-americano terminou esta terça-feira (28.07) a sua visita ao continente africano com um discurso histórico na União Africana (UA). Grandes expectativas rodeavam o primeiro discurso de um líder dos Estados Unidos da América (EUA) na União Africana. E Barack Obama parece ter cumprido a promessa feita à chegada à Etiópia de "não morder a língua" quando o assunto em causa é a boa governação.

Em Addis Abeba, na sede da organização onde estão representados 54 países africanos - liderada pelo Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe -, Barack Obama lembrou que o progresso do continente depende de uma "verdadeira democracia", afirmando que, para isso, é preciso haver "eleições livres e justas, liberdade de expressão e de imprensa e liberdade de reunião".

Os aplausos subiram de tom com as críticas de Obama aos líderes africanos que se agarram ao poder. "O progresso democrático em África está em risco quando os líderes se recusam a deixar o poder no final dos seus mandatos. Não percebo porque querem ficar tanto tempo, especialmente quando têm tanto dinheiro."

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O Presidente norte-americano sublinhou que "quando um líder tenta mudar as regras a meio do jogo, apenas para permanecer no cargo, cria instabilidade e discórdia", tal como aconteceu no Burundi. Segundo Obama, a UA pode garantir às populações que os seus líderes cumpram os limites de mandatos e as Constituições. "Ninguém deve ser Presidente para a vida", afirmou.

"Acabar com o cancro da corrupção"

Criticado por várias organizações da sociedade civil pela visita à Etiópia – cujo Governo é acusado de frequentes violações dos direitos humanos – Barack Obama fez questão de frisar, perante a UA, que não existe democracia quando há detenção de jornalistas por fazerem o seu trabalho ou ameaças a activistas por parte do Governo.

Barack Obama Äthiopien
Na Etiópia, Obama foi alvo de críticas da sociedade civilFoto: picture-alliance/AA/Minasse Wondimu Hailu

Num discurso centrado naqueles que Obama considera serem os pilares do desenvolvimento africano, o Presidente dos Estados Unidos também não esqueceu a corrupção, recebendo aplausos da assembleia com este apelo: "Nada libertará mais o potencial económico de África do que acabar com o cancro da corrupção".

Obama reconheceu que a corrupção existe em todo o mundo, mas no continente retira milhões de dólares das economias, dinheiro que poderia ser utilizado para criar emprego e para construir hospitais e escolas. "Os Estados Unidos vão ajudar os governos africanos que estejam determinados a combater os círculos financeiros ilícitos a tomarem medidas, de forma a promover uma boa governação, a transparência e o Estado de Direito", prometeu.

Angola e Moçambique no discurso

No plano económico, Obama sublinhou ainda a importância do poder e educação dos jovens e do papel da mulher na sociedade, como peças-chave do progresso e mudança económica. E mudança é também palavra de ordem nas relações comerciais entre os EUA e o continente africano – um ponto em que Moçambique foi lembrado em Addis Abeba.

"A maioria das trocas comerciais entre os Estados Unidos e a região limita-se a três países – África do Sul, Nigéria e Angola – e fundamentalmente na área da energia. Quero que africanos e norte-americanos façam mais negócios juntos em mais sectores, mais países. Por isso, estamos a aumentar as missões comerciais em locais como a Tanzânia, Etiópia e Moçambique", disse.

Angola e Moçambique são também destacados por Obama num ponto que, de resto, foi uma constante durante as visitas dos últimos dias ao Quénia e à Etiópia: a segurança. "O progresso de África depende também da segurança e da paz. Em Angola, em Moçambique, na Libéria e na Serra Leoa vimos o fim dos conflitos e o trabalho para a reconstrução destes países."

Discurso de Barack Obama perante a União Africana

Porém, lembrou, "da Somália à Nigéria, passando pelo Mali e a Tunísia, terroristas continuam a matar civis inocentes. Muitos deles carregam a bandeira da religião, mas centenas de milhares de muçulmanos africanos sabem que Islão significa paz. E temos de chamar à Al-Qaeda, Estado Islâmico e Al-Shabab aquilo que são: assassinos."

A partir da tribuna da União Africana, Barack Obama garantiu que os Estados Unidos vão estar ao lado de África para fazer frente "ao terrorismo e à guerra".

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