Novo líder parlamentar da UNITA quer mais estabilidade
16 de janeiro de 2012Em entrevista à DW África, Raúl Danda falou também do seu percurso político. Entrou para vida política muito cedo. Em 1974 passa a ser membro da JMPLA, organização juvenil do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em Cabinda. Em 1977, desiludido com a política do MPLA, passou pela Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC). Em 1984 entrou para a UNITA, onde ficou oito anos e saiu antes das eleições de 1992. Agora está de volta e é o novo presidente do grupo parlamentar da UNITA. A missão deste grupo, segundo Raúl Danda, é fazer “o que serve o povo de Angola”. Mas o que significa isso na prática?
Raúl Danda: Em termos práticos, o que serve o povo de Angola é garantir uma estabilidade não só política, mas também uma estabilidade socioeconómica ao povo de Angola. Angola é um país rico que tem um povo paupérrimo. Portanto, o país tem muitos recursos, há dinheiro e há uma grande falta de solidariedade. Para mim, há sobretudo uma grande falta de solidariedade.
DW África: Está a fazer um resumo da situação atual em Angola. O que é que o Raúl Danda faria, ou o que é que o seu grupo parlamentar pretende fazer, para mudar a situação que acabou de descrever?
RD: Primeiro, o que vai mudar não é apenas o grupo parlamentar, quem vai mudar é a UNITA. E vai mudar pouco. Primeiro, nós enquanto grupo parlamentar vamos continuar a pugnar por leis que sejam justas, por um lado, porque as leis são destinadas às populações. Vamos procurar alcançar e maximizar a justeza e a justiça das leis. E é nisso que vamos apostar, por um lado. Por outro, é preciso apostar na fiscalização da coisa pública. Os dinheiros que são entregues ao governo para fazer uma gestão racional, uma gestão que sirva os interesses da população não podem ser dinheiros que depois vão parar a sítios desconhecidos. Não podemos continuar a ter no país situações em que trinta e tal mil milhões de dólares desapareçam como que por artes mágicas, pessoas que enriqueçam da noite para o dia, sem que de fato haja uma justificação plausível. Nós são somos contra os ricos, mas somos a favor do combate à pobreza.
DW África: O que está a defender é que haja uma maior fiscalização, para que depois se verifique uma situação de maior justiça social e também em termos económicos?
RD: Absolutamente. A distribuição e redistribuição da riqueza deste país tem que se fazer sentir. É inconcebível que um país como Angola, que oferece dinheiro e preste ajudas militares a outros países, tenha um povo que muitas vezes está aqui a morrer à fome. Não pode! Por isso que é preciso – e é aí que a UNITA vai assentar a sua força – fazer com que o voto da população conte para o partido em que votarem. Para não termos aquela burla, aquela farsa que tivemos em 2008 e termos, de fato, eleições em que a vontade popular expressa nas urnas seja aquela publicada depois nos resultados finais.
DW África: E por falar em população, vai continuar a lutar pelo enclave de Cabinda?
RD: É óbvio que sim, porque Cabinda reclama por uma solução.
DW África: Vai então insistir para que se fale, para que haja um maior diálogo acerca do enclave?
RD: Nao é só o Raúl Danda, é a UNITA! Porque essa é uma posição firme, provada e comprovada da UNITA. A UNITA quer e sempre quis que houvesse uma solução digna e dignificante para o problema de Cabinda.
DW África: E para além da fiscalização, para que se consiga atingir um nível de justiça maior em Angola e também dessa abertura para o diálogo, o que é que a UNITA propõe mais?
RD: A assunção do poder no país, nas eleições de 2012, para nós, UNITA, trabalharmos em prol do povo. Porque quem está na direção de um país tem que, não servir-se, mas servir o povo. Conversamos com pessoas – mesmo nas estruturas de direção do MPLA - que estão completamente desapontadas e frustradas com a situação que o país vive hoje. Com alguma justeza e com alguma transparência nas eleições, a UNITA é certamente poder em 2012 neste país.