Guiné-Bissau: Novo PM entra em funções
8 de agosto de 2023O novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, proposto pela coligação vencedora das eleições legislativas e nomeado pelo decreto do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, tomou posse esta terça-feira (08.08), no Palácio da República, em Bissau.
No seu discurso, começou por agradecer ao seu partido, o PAIGC, e à coligação PAI-Terra Ranka pela sua nomeação, mas deixou também um agradecimento ao Presidente Umaro Sisoco Embaló pela "confiança", na expectativa de um "relacionamento institucional saudável".
"Se aceitei humildemente este desafio, é por saber poder contar com a sua total disponibilidade e o seu total apoio", afirmou. "Do mesmo modo, devo dizer-lhe que pode contar com a minha indefetível lealdade".
Geraldo Martins disse que ouviu as grandes preocupações dos guineenses durante a campanha eleitoral e admitiu que não há "uma varinha mágica" para resolver os problemas do país. Para isso, pediu a "ajuda de todos" e prometeu criar um "Governo inclusivo".
"Temos a noção da enormidade dos problemas e sabemos que somos todos poucos para poder resolver sses problemas", disse. "Um Governo inclusivo é um Governo alargado a outras formações políticas que não a coligação vencedora das eleições, mas também é um Governo que procurará fazer jus às diferentes sensibilidades que existem no nosso país".
Quem é Geraldo Martins?
Antigo quadro sénior do Banco Mundial, o novo primeiro-ministro guineense, Geraldo João Martins, de 59 anos, licenciou-se em Química-Física e também em Direito, pela Faculdade de Direito de Bissau, obtendo mais tarde o mestrado em Gestão e Políticas Públicas, em Londres. Martins foi uma vez ministro da Educação e três vezes ministro das Finanças.
Geraldo Martins é vice-presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e próximo do líder do "partido dos libertadores", Domingos Simões Pereira, com quem fez praticamente todo o percurso político e académico, chegando a integrar o Governo liderado por este.
À DW África, o analista político Fransual Dias considera acertada a escolha da figura de Geraldo Martins para chefiar o Governo: "Por ser uma pessoa com largos anos de experiência a nível das organizações internacionais, penso que são requisitos essenciais para ele merecer esse crédito e poder ser experimentado quanto a essa missão de ser o chefe do Governo e poder prestar o seu contributo [ao país]".
"O país não está bem"
Mas William Gomes Ferreira, especialista em políticas públicas, frisa que Geraldo Martins não tem uma tarefa fácil pela frente: "O país não está bem e está com sérios problemas", afirma.
"O novo primeiro-ministro terá que ter uma capacidade muito elevada no sentido de, acima de tudo, promover um diálogo dentro da coligação que vai liderar o Governo", considera o analista. "E como é uma coligação que conseguiu assinar uma série deacordos de incidência parlamentar, tudo isto terá que, de certa forma, acrescentar dificuldades e complexidades aos desafios do primeiro-ministro".
Ainda assim, o analista político Fransual Dias espera que o novo primeiro-ministro cumpra o mínimo previsto para a governação e "que tenha a coragem de implentar o programa eleitoral apresentado" à população.
"Que haja uma governação inovadora, que não se baseie na rotina de despachos, mas uma governação que vá ao encontro das necessidades das populações", apela.
Simões Pereira deve ser "um gerente"
Entre os desafios que aguardam o futuro Governo estão preparar, dar início e estabilizaro ano letivo e estancar o aumento dos preços dos produtos no mercado. Por isso, William Gomes Ferreira espera que Geraldo Martins não seja abandonado pela coligação que propôs o seu nome para a nomeação.
"O líder da coligação PAI-Terra Ranka [Domingos Simões Pereira], também terá que participar, não de uma forma direta do Governo, mas funcionar como um 'pivot', no sentido de ser um gerente fora do Governo, para saber lidar com as pessoas com as quais assinou esses acordos", explica.
"Isto pode parecer algo positivo e, de certa forma, é. Mas o problema é a capacidade de gerir o elenco [governativo], porque o Governo precisa de agir rápido para resolver os problemas do país", conclui Gomes Ferreira.