ONU não confia numa missão militar africana no Mali
10 de dezembro de 2012AFISMA significa Missão Africana de Apoio ao Mali. Mas não se sabe quando, e nem sequer onde, a AFISMA vai começar.
Segundo o secretário-geral das Nações Unidas, Ban ki-Moon, o diálogo político sobre o Mali tem prioridade, "apenas quando for realmente necessário uma missão militar deveria ser considerada", disse Ban à margem da Conferência do Clima da ONU, que terminou no Catar no último fim de semana (08.12).
Numa recomendação ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, Ban declarou-se a favor da AFISMA. Ao mesmo tempo, desaconselhou o órgão mais importante da ONU a financiar uma intervenção de países africanos no Mali.
Sem o apoio financeiro de países ocidentais, no entanto, os vizinhos do Mali não vão conseguir sustentar a AFISMA. Uma intervenção militar internacional poderia custar até 500 milhões de euros.
Refugiados do Norte exigem saída dos rebeldes
Em junho deste ano, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) já tinha proposto que uma missão de 3.300 soldados dos países-membros da organização interviesse no norte do Mali para expulsar os rebeldes radicais islâmicos da região.
Estes rebeldes dominam dois terços do Mali a partir do norte desde abril, sob liderança de diversos grupos terroristas. Expulsaram o Exército maliano e também os militantes tuaregues, que lutam pela independência e com quem estiveram aliados.
Os rebeldes radicais islâmicos querem criar um Estado islâmico na região. Segundo a DW apurou, eles também cortam as mãos de supostos ladrões e apedrejam aqueles que consideram ter cometido adultério.
Mais de 400 mil pessoas terão fugido dos islamistas até agora. Na capital maliana, Bamaco, os refugiados do norte do país pedem sempre ajuda internacional contra os rebeldes nas manifestações que organizam.
AFISMA não inspira confiança
Porém, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, parece duvidar de uma missão liderada por africanos. Os Exércitos dos países da CEDEAO são considerados muito fracos para lutar contra os radicais islâmicos, aparentemente bem armados – equipamento pesado, ao qual tiveram acesso durante a guerra da Líbia, em 2011, e que contrabandearam para o Mali, localizado a sudoeste, passando por Níger e/ou Argélia.
Marco Wyss, especialista em Segurança da Escola Politécnica de Zurique, na Suíça, diz que é difícil planejar uma intervenção internacional no Mali – a começar pela questão geográfica: "O terreno é muito amplo, o Mali é um país grande. A metereologia também é de grande importância. O equipamento dos soldados da CEDEAO e também o equipamento que eles vão receber dos países do Ocidente não é feito para todo tipo de clima".
Entre março e junho, os termómetros costumam ultrapassar os 40ºC. Em julho, é época de chuvas. Também por isso, uma intervenção militar é considerada impossível antes do segundo semestre de 2013 por Romano Prodi, encarregado especial das Nações Unidas para a região do Sahel.
Adiamento de intervenção militar em nome das negociações
Mas não é só a metereologia que pode atrapalhar o início da AFISMA no Mali, já que o clima político também se alterou nos últimos meses. Dois dos quatro grupos rebeldes que controlam o norte do país negoceiam agora diretamente com o governo.
Em Ouagadougou, capital do vizinho Burkina Faso, representantes islâmicos do Ansar Dine e rebeldes tuaregues do Movimento Nacional para a Libertação do Azawad (MNLA) sentaram-se à mesa com membros do governo de Bamaco.
Para Werner Nowak, especialista na região ocidental africana pela Fundação alemã Friedrich Naumann, essas negociações enfraqueceram os diferentes grupos rebeldes: "Já se vê agora que existe um fosso entre os grupos radicais islâmicos, que têm uma agenda evidentemente religiosa, e os grupos de tuaregues, que possuem uma agenda política e que já abdicaram de suas exigências."
O especialista lembra ainda outro fator, a existência do Ansar Dine, o grupo rebelde tuaregue, mas que tem uma agenda religiosa. Werner Nowak acredita no adiamento da intervenção militar por outro motivo: "Acho que ainda se vai esperar com uma intervenção militar até que se saiba até onde irão as negociações".
Se não for dado esse tempo de espera, o secretário-geral da ONU teme que uma decisão que impulsione logo a AFISMA acabe com negociações pacíficas.
CEDEAO quer intervenção militar imediata
Por outro lado, a CEDEAO pressiona por uma intervenção, como disse o atual presidente da Comunidade, o chefe de Estado da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, durante visita recente a Paris: "Uma intervenção militar é indispensável e tem de acontecer logo. Se as Nações Unidas ainda votarem numa resolução em dezembro, esperamos que seja possível organizar uma intervenção no primeiro trimestre de 2013".
Mas porque as organizações africanas e a ONU veem a crise no Mali de forma diferente? O especialista suíço Marco Wyss explica que, durante as violências pós-eleitorais na Costa do Marfim, em 2010 e 2011, tanto a CEDEAO quanto a União Africana esperaram demais: "A CEDEAO e também a União Africana querem testar as próprias capacidades. Há dúvidas um tanto quanto tensas na questão do Mali: quem é que manda? Por isso, as duas organizações, concorrentes, também estão com suposições positivas demais".
Autor: Peter Hille/Renate Krieger
Edição: Nádia Issufo/António Rocha