Oposição senegalesa promete eleições sem Wade
7 de fevereiro de 2012No Senegal, o arranque da campanha eleitoral teve início no domingo (05.02) e para o seu primeiro "meeting" o presidente Abdoulay Wade deslocou-se a Touba, no leste do país. Por seu turno, a oposição, em bloco, reuniu-se na Praça do Obelisco em Dacar, a capital, um local que se transformou no símbolo da contestação à candidatura do presidente cessante.
Todos os candidatos da oposição continuam a insistir num "não" à candidatura de Wade, como disse à DW-Africa Abdoulaye Wiulane, porta-voz do partido socialista senegalês: "Vamos combatê-lo, vamos correr com ele do jogo político. Nunca vamos ter uma eleição com Abdoulay Wade como candidato."
Em todo o caso, Abdoulay Wade não pensa em retirar a sua candiatura, aliás como repetiu no domingo durante o seu primeiro comício da campanha realizado em Touba, no leste do país, uma região considerada o bastião da confraria muçulmana dos Mourides.Esta irmandade, bastante respeitada no país, controla vários setores da economia senegalesa. Wade é um mouride e foi a Touba receber a benção do líder espiritual.
PDS contra a maré
Apesar da maioria estar contra a candidatura de Wade, ainda existe quem esteja do seu lado. Babacar Gaye, porta-voz do Partido Democrático Senegalês (PDS), que apoia Abdoulay Wade, prefere dar o caso por concluído: "Penso que é uma pena principalmente para a oposição continuar a discutir sobre esta reivindicação se é ou não legal. O Conselho constitucional divulgou a sua decisão e portanto o debate sobre esta questão foi encerrado."
O Presidente senegalês criticou ainda alguns países ocidentais, nomeadamente a França e os Estados Unidos da América que defendem a retirada da sua candidatura. Na ótica de Babacar Gay, porta-voz do partido de Abdoulay Wade, o presidente da República assume esta função "que é digna", considera Gay, e ao mesmo tempo válida como a do presidente americano Barack Obama ou do francês Nicolas Sarkozy, porque, de acordo com o porta-voz de Wade, "foram as instituições deste país que decidiram que Adboulay Wade fosse candidato."
Manifestações manchadas de sangue
Eleito em 2000 e reeleito em 2007, Abdoulay Wade, de 85 anos de idade, concorre a um terceiro mandato de sete anos contra 13 outros candidatos. Mas segundo a oposição, Wade já esgotou os seus mandatos legais e esta nova candidatura "não é mais do que um golpe de Estado constitucional". No campo de Wade, diz-se que as reformas introduzidas na Constituição, em 2001 e 2008, lhe dão a possibilidade de se apresentar na corrida eleitoral.
A campanha eleitoral termina no próximo dia 24 e o escrutínio presidencial está previsto para o dia 26.
Recorde-se que a validação a 27 de janeiro da sua candidatura pelo Conselho Constitucional, confirmada dois dias mais tarde, provocou uma onda de violência no país que fez aproximadamente quatro mortos e vários feridos em Dacar e no interior do país. O chefe de Estado cessante acusou a oposição de ser responsável por essas violências.
De lembrar que algumas candidaturas foram rejeitadas, como por exemplo a do cantor Youssou N´dour. Segundo o Conselho Constitucional, o famoso músico não obeteve o mínimo de assinaturas exigidas, dez mil. Ele terá conseguido 8.911 assinaturas de apoiantes legíveis.
Além da recandidatura de Abdoulaye Wade, foram validadas 13 das 17 candidaturas, nomeadamentea dos opositores Idrissa Seck, Macky Sall, Moustapha Niasse e Ousmane Tanor Dieng, este último líder do Partido Socialista.
Face a esta crise, a União Africana exortou os atores políticos do Senegal para que iniciem urgentemente um diálogo político, com vista garantir um processo eleitoral, livre e transparente, única forma de consolidar as vitórias democráticas já alcançadas pelos senegaleses.
Autor: António Rocha/LUSA
Edição: Nádia Issufo/Madalena Sampaio