Senegaleses sofrem com aumento de preços dos alimentos
10 de junho de 2011No Senegal, vizinho do norte da Guiné-Bissau, milhares de pessoas vêm protestando na capital Dacar contra a constante subida dos preços dos alimentos. Há muitas mulheres entre os manifestantes – o que não surpreende, porque, afinal, são elas que têm de alimentar as famílias.
Touti Samb é uma delas e diz não saber mais lidar com a situação: “Os produtos alimentares estão tão caros!”, indigna-se, em meio à multidão. “Um pacote de arroz está caro, os tomates estão caros, está tudo caro! Eu faço o que posso para pôr alguma comida na mesa em casa. Mas está tudo muito caro!“, queixa-se.
Ainda há pouco tempo o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou para o facto de cada vez mais pessoas de baixo rendimento sofrerem com o aumento dos preços. Zoellick dizia então que cada vez mais pessoas correm o risco de serem empurradas para a pobreza.
De acordo com um relatório do Banco Mundial, a média de aumento dos preços dos produtos alimentares em relação ao ano passado ronda os 36%. Mas mesmo que este problema afete o mundo todo, Alioune Tine, Presidente da União Africana para a Defesa dos Direitos do Homem (RADDHO, sigla em francês), vê o Estado como responsável: “Os direitos à alimentação, saúde, educação e trabalho são direitos fundamentais do homem”, lembra o diretor da organização de direitos humanos senegalesa. “E quem lidera um Estado deve, na minha opinião, assegurar comida suficiente para a população. Mas se virmos o que se passa em África, uma coisa é clara: crises surgem porque os governos não são capazes de resolver estes desafios”, diz Tine.
No Senegal, afirma o ativista, o fosso entre a elite e o resto da população é muito grande. A elite, que é uma minoria, não tem de prescindir de nada. Já a classe média, por seu lado, tem problemas em alimentar a família durante o mês todo.
Corrupção, entre outros motivos, causa subida dos preços
Segundo o Banco Mundial, o rápido aumento dos preços dos alimentos tem várias causas: preços de combustíveis, más colheitas e o aumento da produção de biocombustíveis que tira área agrícola para a produção de alimentos. O problema em muitos países africanos é que as pessoas são mais atingidas pela subida dos preços do que nos países industrializados, porque investem uma percentagem maior dos seus salários em comida.
Quem disso tira proveito, diz Tine, da organização RADDHO, não são os vendedores, mas os especuladores: “Muitas vezes o Estado não tem meios efetivos para combater as subidas dos preços. E isso deve-se, por um lado, à forma como a administração está estruturada e, por outro, à corrupção: às vezes fecham-se os olhos para não se verem as coisas”, avalia.
Autores: Babou Diallo / Dirke Köpp / Marta Barroso
Revisão: Renate Krieger / António Rocha