"Os Camarões precisam de um novo rumo"
11 de outubro de 2018O Conselho Constitucional dos Camarões ainda está a conferir os votos das eleições presidenciais de domingo (07.10).
Sem citar números, o candidato do partido Movimento para o Renascimento dos Camarões (MRC), Maurice Kamto, já se proclamou vencedor do escrutínio, na segunda-feira. O anúncio criou tensão social no país. Mas o presidente do Conselho Constitucional, Essombe Emile, frisa que ainda não há resultados oficiais.
"Estamos a corrigir erros que foram cometidos num nível inferior", adiantou Emile em declarações à agência de notícias Associated Press. "Nós não nos importamos com o que as pessoas estão a dizer. Estamos fazer o trabalho para o qual a lei criou esta comissão."
O presidente do Conselho Constitucional assegura que o apuramento dos resultados está no bom caminho: "A nossa democracia está a crescer muito rapidamente. Esta é a primeira eleição presidencial que o Conselho Constitucional está a administrar, e as coisas estão a correr bem. Nós esperamos que, no final do processo, todos os camaroneses fiquem satisfeitos."
Eleições "justas"
Duas missões de observadores declararam as eleições justas e, apesar dos relatos de combates em várias regiões, não terá havido incidentes que pudessem influenciar a conduta do sufrágio.
Entretanto, o presidente da Comissão da União Africana pediu moderação aos representantes políticos dos Camarões. Mussa Faki rogou a todos os partidos que se abstenham de qualquer declaração ou ação que possa gerar violência. As autoridades eleitorais já vieram a público dizer que as declarações de Kamto são ilegais, uma vez que o Conselho Constitucional é o único órgão autorizado a proclamar os resultados nos Camarões.
"Novo impulso"
O filósofo e professor universitário camaronês Achille Mbembe está expectante em relação aos resultados. Mbembe diz, em entrevista à DW África, que "o imperativo neste momento é dar um novo impulso ao país, cuja estabilidade é crucial para toda a sub-região e continente."
O professor da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, na África do Sul, e vencedor do prémio Gerda Henkel 2018, destinado a investigadores, lembra que a oposição camaronesa passa por muitas dificuldades e, nestas eleições, concorreu "com muitas desvantagens, financeiras, logísticas e estruturais."
Mbembe lamenta que a oposição se tenha unido apenas nas vésperas das eleições contra a recandidatura do Presidente Paul Biya, pois, se o tivessem feito mais cedo, isso "teria criado uma dinâmica vitoriosa que nos teria salvado do caos que transparece neste momento."
"A candidatura do Sr. Biya, depois de 36 anos no poder, é demais. Os Camarões precisam de um novo rumo depois de 36 anos de inércia e abandono", acrescenta.
Os resultados oficiais das eleições presidenciais nos Camarões devem ser anunciados até 22 de outubro.