Falta de entendimento persiste entre PRS e PAIGC
30 de agosto de 2016
As duas formações reuniram-se na segunda ronda negocial, mas à saída do encontro, Manuel dos Santos do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e Carlitos Barai do PRS (Partido da Renovação Social) mostraram-se distantes quanto as conclusões.
Manuel dos Santos (PAIGC) defendeu a formação de "um Governo sério", liderado por um primeiro-ministro que não seja o atual, enquanto Carlitos Barai (PRS) notou que "persistem as divergências" sobre os pontos em agenda.
"Cada partido continua a ter a sua interpretação sobre a crise, de modo que não é por agora que vamos ter um acordo", sublinhou Carlitos Barai, que prefere falar em conversações solicitadas pelo PAIGC.Segundo Barai, o PAIGC indicou três pontos para as conversações: Princípios e regras para uma sã convivência democrática entre os dois partidos, causas do bloqueio no Parlamento e como salvar a atual legislatura.
O dirigente do PRS disse serem divergentes as opiniões dos dois partidos sobre os três pontos, pelo que a comissão que toma parte nas conversações vai ter que pedir a anuência da direção do partido sobre a necessidade da continuar ou com as conversações com o PAIGC.
Governo de Consenso?
Manuel dos Santos, por seu lado, defende serem negociações com o PRS visando essencialmente a formação de um novo Governo de consenso entre os dois partidos. Admitiu que se registaram avanços significativos nas negociações com os renovadores embora ressalve que ainda não se pode falar num entendimento que possa levar a assinatura de um acordo para a criação de "um Governo a sério para dirigir o país"."Se for possível vamos chegar a um acordo, mas se não for possível, olha", frisou Manuel dos Santos, que coloca de parte qualquer possibilidade de o próximo Governo a ser formado, a partir do entendimento entre dois partidos, ser liderado por um dos 15 deputados expulsos do PAIGC.
O atual Governo guineense é chefiado por Baciro Djá, um dos 15 deputados expulsos do PAIGC.
Conforme a agenda das conversações, os dois partidos devem voltar encontrar-se na sexta-feira (02.09), mas Carlitos Barai do PRS, condicionou a reunião a decisão a ser tomada pela comissão política do seu partido.
Preocupação com saída da missão da ONU do país
Os representantes da Guiné-Bissau e da CPLP disseram esta terça-feira (30.08) no Conselho de Segurança, em Nova Iorque, estar preocupados com a eventual saída da ONU no final do mandato que termina em fevereiro de 2017.
"Estamos muito preocupados com a notícia de que depois deste ano a missão vai deixar a Guiné-Bissau", disse a diplomata Maria Lopes D'Alva, que representou o país africano no encontro.O mais recente relatório do secretário-geral da ONU sobre a situação na Guiné-Bissau foi esta terça-feira apresentado aos membros do Conselho de Segurança pelo novo Representante Especial, o maliano Modibo Ibrahim Touré, que substituiu o são-tomense Miguel Trovoada.
Lopes D'Alva disse, no entanto, que os responsáveis políticos guineenses esperam que, "por essa altura, o país tenha encontrado uma forma de caminhar sozinho para garantir a paz e que os militares, que se têm mantido fora da cena política, assim se mantenham."
A Comunidade dos Países de Língua e Expressão Portuguesa (CPLP) foi representada pelo diplomata de Timor-Leste Júlio Freitas no encontro.
"Estamos muito preocupados com os efeitos prejudiciais de uma eventual saída do ECOMIB antes da situação de segurança estar garantida e pedimos aos parceiros internacionais que estudem formas para continuar a apoiar a paz e o desenvolvimento na Guiné-Bissau", disse Júlio Freitas.
O representante disse que os efeitos da crise política no país "já se fazem sentir, sobretudo no sistema de educação e saúde e na privação económica dos guineenses."
"Estamos muito preocupados de que [esta situação] possa escalar para tensões sociais", acrescentou o timorense.
Ajuda internacional para aliviar dificuldades imediatas
A representante da Guiné-Bissau disse ainda que a ajuda internacional "para aliviar as imediatas dificuldades socioeconómicas é muito importante e muito necessária neste momento."
"Sabemos que a concretização dos compromissos da Ronda Internacional de Dadores pode estar a espera de um ambiente político facilitador no país, mas a população em sofrimento não pode esperar", concluiu Maria Lopes D'Alva.
No geral, o relatório apresentado defende que "o inicial mas significativo progresso feito na Guiné-Bissau após as eleições de 2014, através da formação de um governo legítimo, inclusivo e democrático, foi amplamente revertido" nos últimos 12 meses.
O documento garante que "três mudanças sucessivas de governo e um prolongado período de paralisia política enfraqueceram ainda mais as instituições do estado", explica que "a implementação de reformas chave nos setores da defesa, segurança e justiça foi suspensa" e que "a prestação de serviços básicos foi negativamente afetada."
O relatório fornece ainda uma atualização sobre os principais acontecimentos políticos, de segurança, direitos humanos, e desenvolvimentos na área socioeconómica e humanitária na Guiné-Bissau desde o seu relatório mais recente, de 12 de fevereiro de 2016.