Pais angolanos têm de comprar livros escolares gratuitos
25 de fevereiro de 2014Professores do ensino primário de Luanda queixam-se que os livros que são distribuídos pelas escolas não são suficientes para todos os alunos inscritos. Muitas vezes, os manuais servem unicamente para os professores prepararem as lições.
Por esse motivo, as direções das escolas veem-se forçadas a pedir aos encarregados de educação que comprem os livros para os filhos nos mercados informais.
"Lecionar com alunos que não têm materiais didáticos é muito difícil", explica a professora Margarida João. Particularmente difícil seria o ensino da Língua Portuguesa sem manual.
"Às vezes, reunimo-nos com os encarregados de educação no início do ano letivo e temos mesmo mandado os encarregados comprarem os materiais. Porque não podemos começar o ano letivo sem os livros", conta o professor Tresório Domingos.
Polícia vende livros apreendidos, denunciam comerciantes
Comerciantes do Mercado do Asa Branca abordados pela DW África confirmaram a venda de livros destinados ao ensino primário, que deviam ser gratuitos. Os comerciantes dizem que compram os manuais no mesmo mercado através de fornecedores que os contactam, mas também aos próprios agentes da Polícia Económica.
"Isso vem aqui à praça, eles é que nos vendem, esses da economia [Polícia Económica] é que nos vendem", avançava uma vendedora. Outra acrescentava: "Os livros da primeira até à sexta classe aparecem aqui à venda, nós não os compramos a um armazém, vêm mais das províncias."
Segundo os comerciantes, os materiais didáticos comercializados naquele mercado proveem também da China, para onde os livros seriam levados para serem copiados.
Os vendedores que vivem do comércio de livros contam que, na semana passada, foram surpreendidos por agentes da Polícia Económica. Os comerciantes acusam os agentes de terem arrombado contentores onde havia diversos produtos dos vendedores.
"Eles são assim, veem-nos aqui na praça, levam-nos os livros e não os levam para a unidade. Vendem-nos de novo. Lá só apresentam lixo, não apresentam os bons livros. Eles fazem negócio com isso", denunciou à DW África uma vendedora.
Preocupados com tantas detenções, os comerciantes de livros no mercado de Luanda apelam às entidades competentes para fiscalizarem as gráficas, as escolas e também as repartições municipais de onde provêm os livros.
A DW tentou ouvir a Direção Provincial de Luanda da Polícia Económica, sem sucesso.