Polícia desmantela feira organizada por médicos em Maputo
8 de agosto de 2023Os médicos tinham preparado todo o material para levar a cabo uma série de atos clínicos, numa feira da saúde que organizaram para dar cuidados aos cidadãos afetados há vários dias pela greve destes profissionais. O Conselho Municipal até dispensou o material, mas a polícia ordenou o cancelamento do evento por "orientação superior".
"Tivemos aqui a visita da Polícia da República de Moçambique, acompanhada pela Polícia Municipal, a informar-nos que esta atividade não tinha autorização. O facto é que na semana passada nós tínhamos submetido o pedido junto da vereação de saúde municipal para realizar a atividade e foi autorizado para cá estarmos", conta Napoleão Viola, da Associação Médica de Moçambique.
Para este responsável, a atitude das autoridades policiais mostra que não há sensibilidade com o problema dos médicos. "Parece que alguém está contra o facto de os médicos poderem prestar serviços à população moçambicana de forma gratuita e aberta, e infelizmente é uma situação que penaliza bastante a população. Estavam aqui muitos citadinos, principalmente daqui da área de Zimpeto", comentou.
Consultas e check-ups
Os médicos no local faziam consultas e levavam a cabo vários rastreios, como o teste ao HIV/SIDA, e a medição da tensão arterial, por exemplo. Muitos destes atos clínicos estão atualmente interrompidos nos hospitais por causa da greve destes profissionais.
A médica de família Fatimata Rodrigues diz que pode ter havido um mal-entendido que precipitou a atuação da polícia, uma vez que os médicos usavam roupa com mensagens a indicar que estavam em greve, mas a prestar serviços mínimos.
"Mas não acredito que foi uma falha que mereça toda a situação que acabou por surgir, porque a intenção era mesmo atender a população sem nenhum grito, sem nenhuma manifestação, mas aconteceu isto; tivemos que parar", referiu a médica.
Profissionais do lado do povo
Gomes Cumbe, médico de clínica geral, explica que a feira pretendia mostrar a todos os cidadãos que os profissionais não estão de braços cruzados e nem pretendem prejudicar ninguém.
"Passadas três semanas decidimos aliviar aquilo que seria um atendimento personalizado a essa população neste caso do bairro do Zimpeto", afirmou.
No último sábado (05.08), quase 200 médicos moçambicanos marcharam pelas ruas da capital para protestar contra a revogação do estatuto daquele profissional.