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População de Moçambique vive entre medo e indignação

Glória Sousa24 de janeiro de 2014

Os conflitos entre a RENAMO e o exército governamental estão a causar pavor no seio da população que revive os traumas da guerra. A sociedade sente-se indingada mas não condena os ataques, segundo sociólogo moçambicano.

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Foto: picture-alliance/dpa

O alastramento de homens armados, alegadamente da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), a regiões sul de Moçambique abala a população.

A informação sobre a presença de homens armados, no distrito de Moatize, na província central de Tete está a motivar a fuga de residentes da localidade de Nkondedzi para o vizinho Malaui.

Apesar de não se verificarem combates no terreno, o receio do regresso à guerra está a causar “pavor” nas comunidades, constata o sociólogo moçambicano Eugénio José Brás.
“O pavor da população é resultado primeiramente de alguns incidentes ocorridos desde o ano passado, em que houve morte principalmente de civis, ao longo da Estrada Nacional 1. Esses incidentes, que têm sido muito divulgados na televisão, têm causado uma espécie de um reviver da guerra que durou 16 anos em Moçambique”, explica o sociólogo.

Pelo que, perante a “informação de homens armados em alguma região, a população com certeza vê que a melhor solução é sair do que esperar para confirmar. Então é mais a resposta institiva de sobrevivência por parte da população”, afirma Eugénio Brás.

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A presença de homens da RENAMO na província central de Tete abala a comunidade e um dos centros da economia paísFoto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Regressa fantasma da guerra

Quase 24 anos depois da assinatura do Acordo Geral de Paz (1992), que ditou o fim da guerra civil, o atual receio mostra que os traumas do passado estão ainda longe de estar ultrapassados.
Na opinião do sociólogo moçambicano, "a RENAMO sempre usou uma política de ameaça de retornar à guerra, então nunca houve um momento em que a população teve tempo de esquecer a possibilidade de se retornar à guerra”.

O conflito armado está ainda longe de ser um assunto esquecido, permanecendo vivo na memória coletiva: “as pessoas que viveram a guerra estão vivas hoje e estão a ver a possibilidade de serem atacadas de novo de forma indiscriminada por homens armados que não se sabe ao certo onde estão nem quando vão chegar.”

População não culpa RENAMO

Apesar de a população estar psicologicamente cansada dos ataques, do avanço de homens armados e de mais de 20 rondas negociais sem qualquer resultado entre o Governo da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e a RENAMO, o principal força da oposição, o sociólogo moçambicano Eugénio Brás, verifica que “não há por parte da população uma grande censura aos ataques da RENAMO”.
“A população não aparece nos meios eletrónicos a censurar aos quatro ventos os ataques da RENAMO. Simplesmente [as pessoas] usam esse cenário para acusar novamente e pressionar mais uma vez o Governo e o Presidente da República e exigir com isso que haja diálogo” com a principal força da oposição, considera.

De acordo com o sociólogo, a população questiona-se sobre a verdadeira vontade de as duas partes conversarem e chegarem a uma solução que possa pôr fim ao conflito. Na perspectiva de Eugénio Brás, torna-se evidente um afastamento da sociedade urbana da FRELIMO e o aumento do tom de indignação com o Governo e com o Presidente Armando Guebuza.

População de Moçambique vive entre medo e indignação

José Bras Maputo Mosambik
Eugénio Brás, sociólogo moçambicanoFoto: DW/G. Sousa
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