População deixa aldeia em Sofala depois de ataque armado
5 de setembro de 2016Os moradores do povoado de Nhampoca, no distrito de Nhamatanda, na província de Sofala, centro de Moçambique, deixaram as suas casas nesta segunda-feira (05.09) depois do ataque armado que deixou dois mortos no local, na última sexta-feira (02.09).
Segundo informações do Governo moçambicano, o ataque seria de autoria da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). As duas vítimas são o régulo do povoado de Nhampoca e o chefe do posto administrativo de Tica. Ambos foram executados a tiros depois de terem sido raptados durante comício popular que orientavam na comunidade, no qual pediam para a população não abandonar o povoado, mesmo em circunstâncias de tensão militar.
Nesta segunda-feira, o que se viu no povoado de Nhampoca foi pessoas com medo, abandonando suas casas, a carregar tudo o que podiam. A maioria seguiu em direção aos povoados de Muda, Tica e a vila sede de Nhamatanda.
"Carregamos chapas, comida, tudo. Estamos à procura de outro sítio mais seguro para ficar. Eu vou para Tica, para a casa da minha irmã. Vou ali permanecer uma ou duas semanas", afirmou uma moradora.
Povoado vive clima de tensão
Os moradores de Nhampoca contam que os confrontos na região começaram há duas semanas, quando um grupo das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FADM) chegou a povoado em mais uma missão de patrulhamento. A missão ocorria devido aos relatos de circulação de grupos armados ligados à RENAMO.
“Houve um barulho, entraram estes homens das FADM, chegaram ali queimaram tudo: bancas, moagens; levaram cabritos e comida da população. (Agora) Eu vejo os vizinhos a levarem chapas, crianças a fugirem. Eu não posso ficar sozinha, também estou a levar minha bagagem e sair daqui, não quero ficar nesta zona sozinha", revela a moradora.
O administrador de Nhamatanda, Boavida Manuel, tranquiliza a população, pede calma e para que as pessoas permaneçam nas suas residências. Ele garantiu que reforços estão sendo envidados para garantir a ordem e tranquilidade naquele local.
“No nosso caso, em Nhamatanda, estamos a levar a cabo operações seletivas, visando desarticular todos os malfeitores que visam desestabilizar a população”, assegura Manuel.
Defesa da população
O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, encorajou as Forças de Defesa e Segurança a defenderem as populações dos ataques atribuídos ao braço armado da RENAMO.
"Encorajamos as Forças de Defesa e Segurança a defenderem de forma implacável o povo dos ataques condenáveis da Renamo", disse Carlos Agostinho do Rosário, falando durante a cerimónia de abertura da reunião de estabelecimentos de ensino e formação militar, que decorre desde hoje (05.09) na cidade da Matola, arredores de Maputo.
Ataque de sexta-feira
Na sexta-feira passada (02.09), durante o comício popular em Nhampoca, o chefe da secretaria local do Governo suportado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Isequiel Mambasse, testemunhou o que aconteceu. Segundo ele, os homens chegaram e tentaram impedir a realização do evento.
"Eles chegaram no comício e mandaram parar a reunião .Em seguida perguntaram à população quem estava a queimar casas na localidade? A população, porque estava com medo, disse que eram os militares das FADM que tinham entrado naquela zona", afirma.
Outras testemunhas contam que um dos homens armados que protagonizaram a ação esteve presente desde o início do comício popular. Já no fim do comício, outros homens armados saíram das matas, interromperam o comício, ordenaram a população para abandonar o local. Em seguida, eles raptaram o régulo, o chefe do posto e o seu secretário. Este último foi libertado e ordenado a comunicar ao administrador distrital sobre a ocorrência.
Mais ataques
Durante o fim de semana, o Governo registou outro ataque armado, que também atribuiu à RENAMO. O ataque aconteceu no povoado de Mavonde, distrito de Manica, na província do mesmo nome. Uma pessoa foi morta e três feridas gravemente.
A DW África entrou em contato com a RENAMO para obter esclarecimentos sobre as declarações do Governo, mas não obteve resposta alguma.